google-site-verification=-Vw97frlPatSJg0ryKCuJ0vKAYHw3mR4lx8_MQJ6OGQ
top of page

RESULTADOS DA BUSCA

135 resultados encontrados com uma busca vazia

  • Seus diálogos funcionam fora do papel?

    Conversamos com a atriz Silvia Quadros e compartilhamos algumas dicas práticas para resolver essa encrenca por Guilherme Soares Zanella Entre os principais pontos de insegurança de roteiristas profissionais arrisco dizer que o mais recorrente diz respeito aos diálogos. Muitos colegas roteiristas que dominam a técnica e são mestres em estrutura ainda se sentem desconfortáveis na hora de construir diálogos. Quando buscamos informações sobre construção de diálogos, outra questão fica bem clara: muito se fala sobre a função dos diálogos na história e pouco se fala sobre como fazê-los soar o melhor possível. O raio-x da construção está muito bem fundamentado por pessoas como Robert McKee, por exemplo, que em seu livro “Diálogo: A Arte da Ação Verbal Na Página, No Palco e Na Tela” explica as três funções do diálogo: 1. A exposição de elementos de ambientação, história e personagens para que o espectador entenda o desenrolar da narrativa e crie um elo com a trama; 2. Caracterização das personagens - a soma de todos os seus traços e comportamentos; 3. Equipar as personagens com meios para agir, de forma mental, física ou verbal. O livro, naturalmente, trata de diversos outros aspectos da criação de diálogos, mas este não é o ponto da matéria. Se você não leu Mckee, aconselhamos que o faça. A questão é: mesmo para quem domina essas e outras ferramentas teóricas, na hora de “tirar o diálogo do papel” tudo pode parecer forçado, artificial ou apenas nada interessante. O ensaio com os atores é um dos momentos chave para identificação de tudo o que não funciona nos seus diálogos. É ali que suas palavras ganham vida e você percebe que existe muito mais do que estrutura e função para criar diálogos interessantes e que camuflam muito bem esses três elementos de construção citados anteriormente. Mesmo antes disso é muito fácil notar quando seus diálogos não funcionam. Em processos com consultores, por exemplo, é muito comum surgir o comentário: “esses diálogos precisam de muito trabalho”. Isso porque diferente dos problemas com plot, que às vezes levam diversas páginas para serem identificados, problemas de diálogos são notados em poucas linhas. Como resolver essa questão, afinal de contas? Vamos explorar melhor o tema trazendo outros fatores para a construção de diálogos, ouvindo quem lida com isso no dia a dia e compartilhando algumas dicas para fazer o seu diálogo soar melhor. Da psicologia ao comportamento Em seu livro The Film Director’s Intuition: Script Analysis and Rehearsal Techniques, a autora e preparadora de elenco Judith Weston levanta a questão: “emoções genuínas são privadas, ou seja, únicas para cada indivíduo”. A partir disso surge o desafio para o autor: como expressar as emoções através do texto, considerando isso? Por trabalhar com a análise de subtexto através da relação entre diretor e atores, o livro traz insights preciosos para roteiristas que almejam conferir mais autenticidade aos seus diálogos. Para isso, naturalmente, é preciso ter um domínio além daquele previsto pela técnica e suas funções para movimentar a trama. Para complementar o assunto, convidamos a atriz Silvia Quadros para compartilhar suas impressões do lado de lá da criação, de quem ganha a vida justamente interpretando as palavras que você, roteirista, coloca no papel. Formada em Artes Dramáticas, Silvia Quadros acumula experiências no teatro, cinema e TV, tendo participado de obras como a novela “Em Família” (TV Globo, roteiro de Manoel Carlos e direção de Jayme Monjardim) e o filme “Cidade Ilhada” (Gullane, roteiro baseado na obra do escritor Milton Hatoum e direção de Sérgio Machado). “O trabalho do ator se inicia no entendimento do contexto, os porquês daquilo estar sendo dito e o que não está sendo dito, mas que está presente. Qual o objetivo de se estar falando aquela frase, o que se quer atingir com esta ação. Depois do entendimento e da configuração de hipóteses emocionais da personagem em si e em relação com os outros na cena (sim, são sempre hipóteses, sugestões, que o ator tem que ter na manga porque nunca se sabe o que o diretor vai pedir, que direção ele vai optar por seguir), aí sim vem o processo de memorização”, explica Quadros. Compreender o processo do ator é um instrumento valioso para o roteirista, uma vez que o roteiro é uma espécie de grande guia que serve para toda a equipe e fases de desenvolvimento de um filme. Nas palavras do divertido Craig Mazin, o roteiro é “esse grande livro de dicas que não serve só para apoiar o café”. Muito do valor do diálogo (além das funções que Mckee explora em seu livro) se dá pela construção e acompanhamento emocional das personagens durante a história. Para Judith Weston, o nível máximo desse processo é atingido: 1. Ao trabalhar na análise do roteiro “até que você sinta algo”; 2. Ao assistir enquanto o ator trabalha o texto até que o ensaio “o faça sentir algo como um espectador”; 3. E, finalmente, transformando “psicologia” em “comportamento”. Uma coisa precisa ser dita antes de continuarmos nesta linha: o autor precisa ser fascinado pelo comportamento humano. Observar além dos maneirismos, dos tiques nervosos, dos movimentos superficiais. É preciso explorar o que há de mais profundo: os medos, os anseios, o que a pessoa esconde do mundo, o que a pessoa esconde de si, os mecanismos psicológicos que a protegem, etc. “O perigo se esconde na fácil "receita psicológica", uma abordagem formulada que não oferece uma visão real ou entendimento pessoal de uma situação dramática. Personagens - como pessoas - não são tão lógicos quanto as receitas psicológicas comuns fazem parecer” - Judith Weston A autora traz o exemplo: o ator sempre precisa encontrar um subtexto para as suas falas. Para citar o próprio exemplo do livro, se uma personagem diz “eu acho que eu devo ser masoquista” ou “eu nunca aprendi a amar”, o ator precisa encontrar um subtexto para isso, mesmo que seja algo na linha: “talvez seja isso que ela queira que eu fale antes de me perdoar”. Silvia Quadros complementa este ponto afirmando: “atuar é trabalhar basicamente com subtexto a meu ver. O que falamos verbalmente é apenas a ponta do iceberg do que se passa dentro de nós e o que sai muitas das vezes é o oposto do que sentimos. Tanto do que se passa dentro de nós nem nós mesmos somos capazes de compreender, quanto mais verbalizar, portanto acredito que o subtexto cobre tudo o que o personagem é, não somente o que ele tem intenção de expor”. Aplicando a “substituição” no roteiro Outro macete salientado por Judith Weston, que também serve para o processo da escrita envolve a aplicação da “substituição”. Para o ator, essa é uma forma de humanizar o texto. Nada mais é do que substituir algum elemento da trama - imagem, personagem, objeto - por algo que tenha uma importância emocional mais forte para o próprio ator. É uma forma de encontrar um lugar autêntico mesmo em universos tão distantes da sua própria realidade. “Como técnica, sua utilidade é baseada no princípio de que um objeto ou imagem lembrado terá associações capazes de criar comportamento”, explica Weston. Coisas que fazem parte da nossa vida já vem com uma bagagem própria de comportamentos derivados. Neste processo, o trabalho do ator é encontrar a bagagem mais adequada à cena que ele vai ensaiar, com intuito de encontrar esses comportamentos genuínos sem ferir o objetivo e contexto dramático da cena. Para o criador isso também é útil, uma vez que em certos momentos precisamos construir personagens de realidades extremamente distantes das nossas e mesmo assim eles precisam exibir uma voz própria. Parte do processo de construção, nesse caso, se beneficia muito dessa ferramenta de substituição. É preciso encontrar, ali, algo que sirva de inspiração para que o autor crie uma relação concreta com a personagem que ele está criando. Se ele utilizar algo mais próximo da sua própria bagagem emocional para isso, o trabalho será um pouco mais fácil e, consequentemente, os diálogos vão surgir de forma mais orgânica. Como a “substituição”, segundo Weston, serve para conferir autenticidade à performance, é fácil entender sua função para criar autenticidade à construção das suas personagens. Você não apenas se sente mais confortável durante o processo de criação, como encontra nuances que, de outra forma, pode ser mais difícil de encontrar. Para o roteirista, nuances são extremamente preciosas e fáceis de identificar quando não soam naturais. Weston também explica que você não precisa apenas utilizar objetos, pessoas e contextos diretamente ligados às suas experiências de vida. Pode ser uma relação emocional que você tem com uma pessoa que nem ao menos conheceu, como uma figura pública, por exemplo. A importância do processo de leitura Uma forma extremamente eficaz de trabalhar os diálogos é criando grupos de leitura - não apenas com roteiristas, mas com atores também. A prática dessas leituras dramáticas força o roteirista a ouvir os seus próprios diálogos em voz alta, reparar nas dificuldades eventuais de leitura, repensar ritmo e formato, analisar a reação das pessoas ao ler seus diálogos, etc. “O processo de leitura conjunta é muito interessante. Sente-se o ritmo, as relações, o que não “cabe na boca”, o que e desnecessário ser dito e o que precisa de mais clareza no roteiro. Tem-se uma visão do todo que na leitura pessoal é mais difícil de se ter”, comenta Quadros, que também compartilha conosco alguns dos erros mais comuns que ela identifica ao ler diálogos em um roteiro: “Frases muito longas ou com termos rebuscados dificultam a fluidez da fala. Diálogos explicativos são óbvios e desinteressantes. O que precisa ser dito (e demonstrado) na cena vem muito mais do subtexto, do modo de olhar e agir do que exatamente do que está sendo falado. Somos uma constante contradição como seres humanos e a arte não nos representaria de forma diferente. Hoje mesmo fiz um texto que dizia “não te quero” mas os olhos imploravam pelo amor daquela pessoa.” Uma coisa importante: esse não é um casting, é uma leitura. Chame seus amigos atores e explique a situação: é um processo que faz parte da construção do roteiro e não faz parte da produção da obra, mesmo que às vezes algumas leituras criem espaço para isso. A ideia aqui é colocar suas palavras na boca de quem trabalha profissionalmente com isso e voltar para o processo de escrita com mais clareza e, com sorte, mais nuances também para trabalhar. Algumas dicas para o seu diálogo soar melhor É preciso encarar esse tópico como um guia particular que talvez sirva como inspiração para você, longe de ser uma regra. O ideal é que no processo de estudo (do roteiro e do comportamento humano) você adquira suas próprias noções. Outra coisa: diálogo não serve necessariamente para imitar a realidade, mas normalmente busca-se um caminho naturalista (existem exceções e não vamos aprofundar nas demais vertentes, ou o texto viraria um livro). Dito isso, vamos compartilhar aqui algumas dicas que achamos interessantes para quem quer aproximar os seus diálogos da realidade. Trabalhe interrupções As pessoas se interrompem e isso é parte do barato dos diálogos. As pessoas têm vontade de interagir, tiram conclusões precipitadas, querem compartilhar o que sentem/pensam, etc. Muitos roteiros trabalham longas linhas de diálogo com pouca interrupção e nem sempre essa é a melhor escolha. Aaron Sorkin, em algumas entrevistas, fala que se apaixonou pela construção de diálogos ouvindo óperas, mesmo não compreendendo as palavras recitadas em italiano. O que ele aprendeu ali foi uma lição de ritmo e é por isso que ele desenvolveu o seu estilo próprio de diálogos. Essa é a verdade: no geral as pessoas se interrompem constantemente, muitas vezes deixando parte da informação subentendida. Quantas vezes no dia a dia você interrompe sua própria frase, pois já ficou claro o que tinha para dizer? Isso revela afinidade entre as personagens, ou também pode expressar pressa, impaciência, até falta de conexão, dependendo da forma como você trabalha a interrupção. De qualquer forma, interrupções podem exibir indiretamente toda uma relação anterior ao roteiro, expandindo o seu universo. O silêncio a partir da desconstrução O silêncio também conta, não é mesmo? Sua importância narrativa é grande e, diferente do que algumas pessoas podem achar, também acreditamos que o silêncio dividido entre personagens parte da construção de diálogos. Quando uma cena pede por um desabafo mais longo e sem interrupções, você entenderá a importância em trabalhar as interrupções nas demais sequências. Fala-se muito em “construir silêncios” no cinema, mas pouco em conquistar esse silêncio. Para a construção de silêncio, meu método pessoal é através da desconstrução dos diálogos. Sempre parto de um diálogo rico e cheio de ritmo, mesmo quando meu objetivo é uma cena silenciosa. Pouco a pouco, então, vou substituindo trechos desse mesmo diálogo por linhas de ação - gestos, olhares, interações com ambiente, interações entre si. Assim, quando “chego no silêncio”, encontro um espaço dramático muito mais rico em significado, algo que não conquistaria de outra forma. Contar histórias de forma não-linear Diálogo não serve essencialmente para simular a realidade, como afirmamos anteriormente, mas é preciso que exista certa semelhança. Outra coisa que soa artificial em muitos roteiros é o famoso momento em que uma personagem conta uma história para a outra. Aqui vem outra questão: normalmente pessoas não contam histórias de forma linear. Mesmo que você conte uma história para alguém - algo que aconteceu no seu dia, uma memória do passado, etc. - existe um processo de construção dessa narrativa na sua cabeça. Exibir esse processo em construção é o caminho para um bom diálogo. Durante esse processo você lembra de novos detalhes, se dá conta de coisas que não havia pensado, decide suprimir detalhes, resolve aumentar outros, enfim. Esse é um processo vivo e dificilmente se dá de forma linear. Dependendo da situação emocional da sua personagem, esse processo precisa de mais quebras ainda. O que a pessoa está sentindo ao revisitar a história que conta? Detalhes vão fugir ou vão sobrar? Ela precisa voltar para pontos anteriores para ilustrar o ponto? Esse é o ponto onde o subtexto precisa estar bem claro, ou dificilmente você vai alinhar o seu diálogo à bagagem emocional que a memória pede. Personagens diferentes, vozes diferentes Também é muito comum ler um roteiro e perceber que alguns personagens dividem “a mesma voz”. Muitas vezes essa é a voz do próprio autor, por sinal. Isso acontece principalmente quando a função do diálogo está clara, mas não há uma compreensão de quem a personagem é “de verdade”. Construir personagens é assunto para outro tópico, mas podemos destacar alguns pontos que ajudam na hora de conferir voz própria às personagens. Uma técnica pessoal que utilizo é a criação de cenas fora da linha narrativa para construir “interações”. Aprendemos a ser quem somos através do convívio social. Com minhas personagens isso não é diferente. Quando sinto dificuldades em encontrar uma voz, um traço particular daquela personagem, pego meu material sobre o seu background e começo a escrever cenas-chave da sua vida, fazendo-a interagir com outras personagens. Através desse processo, percebo que os diálogos começam a ganhar forma com o passar do tempo. Novamente, destaco que isso não diz respeito a função do diálogo, mas a forma como ele é apresentado ao mundo. Todas essas “dicas” servem para um processo posterior ao que julgo crucial: entender o diálogo como ferramenta narrativa. Também temos que falar sobre as cenas com conversas pelo telefone. Quando vejo uma cena assim com um diálogo ruim, sinto que o autor não escreveu a conversa completa, apenas ficou preso ao que a personagem central da cena responde. É preciso, sim, escrever o diálogo inteiro, de ambos os lados, mesmo quando uma das partes não aparece em cena ou não temos o registro da sua voz. Parece óbvio, mas é preciso ser dito. Uma lição sobre diálogos é que eles não se resumem apenas àquilo que está explícito no filme. Pelo contrário, os bons diálogos estão sempre relacionados aos pontos do universo que estão nas camadas mais íntimas das personagens. Quando sentimos esse peso, sentimos também uma relação mais forte e duradoura com as personagens e sua caracterização. O assunto é longo e existem tantos outros “truques” para melhorar um diálogo. Você tem os seus? Compartilhe com a gente! #diálogos #roteiro #dicas

  • Vai gravar um curta-metragem? Leia essas dicas antes

    Como melhor aproveitar curtas-metragens para beneficiar a carreira artística de autores e roteiristas? por Jessica Gonzatto Quase todos os profissionais do audiovisual iniciam suas carreiras realizando curtas-metragens. Seja no roteiro, direção ou união dos dois (no caso de autorxs), o curta é um excelente produto para testar ideias, personagens, métodos e conceitos artísticos. Geralmente, o curta pode ser uma porta de entrada para o mercado e também um produto de venda que reflete o perfil dos artistas da equipe. Temos aí exemplos como Paul Thomas Anderson, Leigh Whannell e Jennifer Kent para ilustrar certos caminhos desse universo. Portanto, é legal quando enxergamos o curta como um produto mercadológico, mas também como uma ferramenta artística para se construir uma carreira sólida no audiovisual que realmente dê frutos e abra caminhos. Mesmo numa época de fechamento de portas para o audiovisual nacional, o curta ainda encontra caminhos de produção por geralmente precisar de um orçamento menor e ser mais fácil de ser espalhado pelo mercado. E ainda somando o atual contexto de quarentena em que nos encontramos, colocar as ideias narrativas em dia é uma ótima opção de atividade. Por isso, trazemos algumas dicas que podem ajudar na hora de pensar, preparar e distribuir um curta-metragem independente. Acompanhe! A questão do proof of concept Primeiramente, é importante destacar que arte é individual (ainda bem!) e um curta-metragem pode ser feito de mil maneiras. Nosso intuito não é impor regras, mas sim oferecer perspectivas interessantes para a realização audiovisual. Dito isso, existem algumas questões legais de se pensar na hora de conceber um curta ou logo após ter uma ideia narrativa mais clara. A primeira questão é: sua história é realmente um curta-metragem ou teria fôlego para um longa? Se a resposta for "daria um longa" ou "um longa, mas pensei em fazer um curta primeiro", você está no caminho do proof of concept (ou prova de conceito, em português). Esse é um dos formatos de concepção mais interessantes para um curta-metragem, pois ele prepara um universo narrativo muito maior e experimenta com o conceito geral do filme. Isso significa explorar personagens, diálogos, decisões narrativas e até estruturas. O proof of concept pode ser concretizado antes mesmo do roteiro de longa que habita o mesmo universo narrativo. Esse, por sinal, é um ótimo caminho para iniciantes. "Boogie Nights" (1997), de Paul Thomas Anderson, foi baseado no seu documentário cômico "The Dirk Diggler Story", de 1988. Outro exemplo é "O Babadook" (2014), de Jennifer Kent, que foi baseado no curta de horror "Monster", gravado em 2005. Kent descreve seu curta como um "bebê Babadook", o que prova que é um real predecessor conceitual dessa história. O diretor sueco David F. Sandberg também conseguiu a atenção de Hollywood através de "Lights Out", curta de apenas três minutos postado no Vimeo que trouxe a oportunidade do longa homônimo de ser gravado anos depois. Outro exemplo é o do diretor Destin Daniel Cretton (Luta por Justiça), que também percorreu esse caminho ao produzir "Short Term 12", curta-metragem que estreou no Festival de San Diego em 2008 e foi adaptado previamente, em 2013, para um longa homônimo. Aqui no Brasil, podemos citar "Alguma Coisa Assim", proof of concept do longa homônimo realizado por Esmir Filho e Mariana Bastos. O curta testou o universo narrativo do roteiro diretamente, mas se sustentando também como uma história independente. Enfim: temos muitos exemplos dessa noção bem interessante de curta-metragem. Sabendo disso, existe um consenso atual de que o proof of concept é, quase sempre, um excerto de um roteiro de longa-metragem já escrito. Nesse caso, ele tem o intuito mercadológico mais claro de demonstrar o potencial do filme se utilizando de cenas ou sequências já escritas no roteiro maior. Como já vimos, o proof of concept é muito utilizado no mercado hollywoodiano, possuindo alguns exemplares incríveis em que podemos nos inspirar. Um dos mais conhecidos é "Whiplash", que Damien Chazelle adaptou do seu roteiro de longa já escrito previamente. No caso de Chazelle, ele já possuía uma visão bem concreta do que seria o longa - inclusive já incluindo no curta-metragem o ator J.K. Simmons, com quem viria a trabalhar no filme posterior. Exibido no Festival de Cinema de Sundance de 2013, o curta-metragem de 18 minutos recebeu muita atenção e finalmente atraiu investidores para assinar e produzir a versão completa do roteiro, que teve orçamento de US$ 3,3 milhões. O diretor, roteirista e ator Leigh Whannell (O Homem Invisível) também apostou no proof of concept para vender uma idéia de longa-metragem. Junto com o diretor James Wan, filmou o curta "Jogos Mortais" (Saw, 2003), um excerto de seu longa homônimo já escrito na época mas ainda não financiado. O produto acabou atraindo investimento da Lions Gate Films e iniciando uma antologia de 7 filmes. Outros exemplos de sucesso incluem "Alive in Joburg", de Neill Blomkamp, que deu origem à "Distrito 9" (2009) e "Elysium"; e "The Customer is Always Right", curta que Robert Rodriguez produziu para realizar "Sin City" (2005). De acordo com a Filmmaker Magazine, o proof of concept ainda ajuda: "1) a garantir o orçamento do longa-metragem; 2) atrair um forte elenco; e 3) você a obter representação." Nesse contexto, "o proof of concept faz parte de um pacote de desenvolvimento maior. Você precisa de algo rápido e com impacto que seja facilmente digerível e mostre sua estética como cineasta. Você não espera que alguém assista ao seu primeiro longa-metragem de 75 minutos". Essa é uma questão importante nesse formato, pois a idéia de utilizar um curta-metragem como uma espécie de prévia narrativa pode acabar complicando a escrita e deixando-a muito longa. Cuidado! Dicas para conceber um curta-metragem Seguem algumas dicas legais para você que quer escrever um curta ou está no caminho do proof of concept, tendo escolhido utilizar o formato do curta para testar e experimentar um universo narrativo maior: 1. Proof of concept? Pense numa estrutura enxuta Pode parece desafiador, mas a abordagem mais eficiente de demonstrar um conceito narrativo é através de uma metáfora ou narrativa rápida. Para isso, é necessário você identificar o coração da história, os temas ou a tese principal. As personagens serão, idealmente, menos numerosas do que no longa-metragem, por questões de produção e também de condensação narrativa. Afinal, o proof of concept deve demonstrar a potência narrativa do universo criado, dos personagens, diálogos e conceito geral. Que melhor maneira de demonstrar tudo isso sendo rápido e impactante? 2. Faça as perguntas certas Na hora de conceber um curta ou proof of concept, você precisa se fazer as mesmas perguntas que faria em relação a qualquer outro roteiro. Por exemplo, algumas podem ser: sobre o que é o filme? Existe algo a provar ou desmascarar? Quem é o tipo de pessoa que passaria por essa situação? Qual a descoberta, mudança fundamental ou curva de aprendizado que quero explorar? Já quando se trata da estrutura, você também poderá pensar em uma ordem inicial de fatos. Primeiro, na situação principal que essas personagens irão enfrentar. Isso é uma boa estratégia para o filme "começar começando", já mostrando as personagens em situações conflitantes de demonstrem seu caráter. Segundo, qual será a consequência das escolhas que essas personagens fizeram n primeira parte do filme? Para onde elas estão caminhando? Como que vêem o mundo nesse momento? Isso inverte um pouco aquela estrutura mais conhecida de "apresentação - conflito - mudança - reconhecimento" que já vemos tanto. Terceiro, após construir as relações, tensão ou apresentar o conflito principal das personagens, é interessante vermos uma decisão sem volta ou uma mudança irreparável acontecer diante dos nossos olhos. Isso traz uma noção de transformação que naturalmente capta a atenção e deixa no ar a pergunta do "e o que acontece agora?" - algo interessantíssimo de estar presente no final de um curta-metragem. Essas perguntas, como já mencionamos, servem como guias muito livres e flexíveis. Portanto, se você já tem uma idéia e conceito em mente, escreva do modo que a sua liberdade artística mandar. 3. Experimente condensar personagens Se você já concebeu uma narrativa ou alguns personagens, ótimo! Agora, analise se o seu conceito, universo ou mesmo tema narrativo não está muito diluído entre protagonista, irmã da protagonista, melhor amigo, tia-avó, cunhado, vizinho e papagaio do protagonista. A idéia de uma sinfonia de personagens não é sempre uma coisa negativa para a história curta. Inclusive, esse é um artefato muito criativo de se abordar. Contudo, é comum que a força narrativa de uma história tão reduzida a certos minutos se espalhe em meio aos vários pontos de vista e papéis actanciais presentes. Isso deixa tudo menos claro e, muitas vezes, difícel de acompanhar. Nesse caso, vale perguntas como: essa personagem representa algo único na história? Seria possível juntar algumas personagens e fortalecer alguns pontos através disso? Essa ação também dá espaço para criar personagens mais complexas em si, que possuem lados conflitantes e que trazem ainda mais vida à trama. Vai gravar um teaser? Aproveite e grave um curta O teaser é um produto de mercado e tem uma finalidade específica: demonstrar a visão conceitual, dar informações introdutórias de um projeto(ainda mais em caso de documentários) e atrair investimento. Lembra muito o proof of concept, não? E é isso mesmo: o teaser pode ser uma espécie de prova de conceito com menos narrativa, possuindo uma abordagem bem conceitual de fato. É nesse contexto que muitas pessoas não vêem a oportunidade de fazer dois produtos de uma vez só. Portanto, dependendo da montagem, das locações ou mesmo do set em que vai se gravar o teaser, é possível utilizar o momento para construir um pequeno curta com certa linha narrativa (mesmo que mínima). Se você tiver a necessidade ou vontade de gravar um teaser, quem sabe aproveite e grave um pequeno proof of concept narrativo. Isso vai abrir mais espaço para divulgar o projeto, como festivais e mostras, atraindo mais atenção do mercado para o seu trabalho. E essa escolha é viável também quando se trata de um documentário, pois os chamados mini-docs estão obtendo cada vez mais espaço on e offline. Nesse caso, o curta também tem a necessidade de ser breve e explorar o tema central do projeto. Pode ser interessante identificar uma ou duas cenas que personifiquem o coração do filme para qual o teaser vai ser gravado. O teaser, então, pode ser um subproduto desse curta inicial ou mesmo o próprio curta. E agora, onde colocar meu filme? Você gravou seu curta. Mas e agora, para onde ele vai? O pensamento mais óbvio pode ser o de inscrever em festivais a torto e a direito. Enquanto esse caminho expande bastante a sua experiência de mercado, é bom saber que não é o único que um curta-metragem pode trilhar. No momento da inscrição, pode ser interessante também de participar de rodadas de mercado que muitos desses festivais oferecem. Se o seu curta tem um caráter de proof of concept, isso é ainda mais importante de ser feito. A exibição em festivais sem o contato profissional e reuniões com produtores não é garantia de que seu projeto vai atrair a atenção de investidores. Por isso, circule por rodadas de negócio e apresente seu curta como um real produto mercadológico concebido com um intuito maior: de atrair investimento para seu futuro projeto de longa-metragem (e vários outros). Mesmo que muitas tenham caráter de apresentação do roteirista como profissional, certos negócios positivos para sua carreira artística podem ser feitos nessas rodadas. Por exemplo, é possível realizar a venda do seu curta para exibição em canais de TV e streaming dedicados à curta-metragens. Alguns desses também possuem canais online para inscrição, mas muitos só funcionam periodicamente. Por falar em canais online, existem ainda outras rotas que seu curta finalizado pode seguir. Uma delas é a das plataformas de streaming, moda que anda chegando com tudo no Brasil. Essas plataformas são, normalmente, muito inclusivas, aceitando curtas de vários gêneros, estilos e durações. Algumas são gratuitas e outras já prevêem retorno financeiro aos realizadores. Um destaque desse último tipo é a plataforma Cardume, por exemplo. Além disso, os canais de streaming são ótimas difusoras do seu trabalho e andam crescendo cada vez mais. Portanto, pode ser uma boa aposta para curtas que já trilharam o circuito de festivais, de distribuição e estão à procura de um lar. Assista aos curtas "Canibal Tropical" e "Coágulo", dos criadores do Writer's Room 51, no Cardume. #CurtaMetragem #Roteiro #Direção #streaming #dicas #festivais #ProofOfConcept

  • Como ter o seu filme na Netflix?

    Jason Brubaker, Film Distribution Executive, explica o processo de levar um produto audiovisual para a Netflix Quem já não passou por aquele momento de ter uma ideia aparentemente genial e ouvir de algum colega roteirista que "isso é a cara da Netflix"? Quando colocamos o esforço de produção para gravar o filme, então, os sonhos (e as ilusões) podem ser ainda maiores. Independente disso, antes de mais nada é preciso saber: como chegar lá? Ter a oportunidade de apresentar uma ideia ou projeto na Netflix não é assim, algo que se faz do dia para a noite. Existe um processo, um caminho prático e um monte de gente tentando a mesma coisa. No caso dos cineastas independentes, essa pode ser uma missão ainda mais complicada, mas nada impossível. É aí que entra Jason Brubaker, executivo que trabalha com distribuição de produtos audiovisuais em Los Angeles, focado principalmente em estratégias para plataformas de streaming. Para sanar algumas dúvidas sobre esse processo, Brubaker compartilhou um passo a passo derivado da sua própria experiência no mercado. Um recado inicial Brubaker ressalta que essa é uma dúvida constante no mercado independente e já lança um recado: naturalmente, a Netflix vai priorizar projetos que tenham provado a sua relevância no mercado e com uma carreira já estabelecida. O que significa isso? Significa que o projeto teve boas passagens por festivais relevantes e uma recepção/antecipação grande do público. Quer dizer que se o meu filme não for esse hit todo eu não tenho chances? Não. Quer dizer que você precisará ser mais estratégico. Tem outra questão também: a Netflix prefere negociar diretamente com uma empresa distribuidora. Uma forma de encontrar essa figura para assumir a distribuição do seu filme é, justamente, participar de grandes festivais de cinema, por isso ele reforça o ponto anterior. Se você tem um filme independente, mas que não tem todo esse hype agregado, como proceder? Brubaker dá dicas especiais para você estar preparado na hora de apresentar o seu produto para a Netflix! 1. Refine o seu pitch para a Netflix O executivo ressalta: milhares de cineastas sonham com o seu contrato com a Netflix, por isso existe uma demanda imensa de propostas e conteúdos. É preciso refinar a apresentação do seu projeto antes de qualquer coisa, mesmo antes de ir atrás de uma empresa distribuidora. Uma forma de guiar esse processo é considerar as perguntas a seguir: O que a Netflix ganha ao escolher o seu filme? Seu filme foca em tópicos populares e relevantes para o mundo de hoje? Seu filme tem uma forte presença online, principalmente em redes sociais? Seu filme atraiu a atenção da imprensa? Seu filme participou de festivais relevantes como Sundance e SXSW? Essas perguntas não servem para determinar se você vai conseguir vender o seu filme ou não, mas ajudará na hora de entender quais são os aspectos mais fortes ou mais fracos do seu projeto (a partir de um ponto de vista de mercado). Ao entender os pontos fortes do seu projeto, você consegue construir melhor sua apresentação para, então, conquistar uma distribuidora. Sabemos que nem todo filme traz uma resposta positiva para todas essas perguntas, mas é bom entender quais são elas e como trabalhar bem os seus pontos mais relevantes para o mercado. 2. Encontre uma agregadora ou distribuidora Esse segundo passo é muito importante. Como apresentado anteriormente, a Netflix vai querer trabalhar diretamente com essas figuras do mercado, uma agregadora de conteúdo ou distribuidora. É preciso saber a importância desses elementos para o seu filme independente. Como funciona o processo interno de uma agregadora ou distribuidora? São elas que analisam as chances do seu filme em uma apresentação para plataformas como a Netflix. É uma boa maneira de entender o quão alinhado o seu filme está às demandas de mercado. É importante notar que hoje é até comum perceber autores desenvolvendo obras já adequadas a tópicos populares ou mesmo urgentes da nossa sociedade, mas muitas vezes desconsideram outros pontos de atenção. Não adianta ter um tema relevante, mas pouco "barulho" no mercado. Por isso é sempre bom trazer o ponto da estratégia! Como o seu filme vai conquistar a atenção do publico, da imprensa e de empresas distribuidoras? Forte presença em redes sociais é um exemplo disso: uma empresa como a Netflix sempre vai se interessar por produtos que venham com um público agregado. 3. Recebendo a resposta Vamos dizer que você fez tudo certo até aqui: construiu uma estratégia boa, fez seu filme circular bem, foi escolhido por uma agregadora ou distribuidora de conteúdo e elas, então, fizeram o pitching diretamente para a Netflix. O que acontece depois? Brubaker afirma que leva algumas semanas para qualquer resposta, seja ela negativa ou positiva. Se a Netflix se interessar em adquirir o seu filme e colocá-lo no catálogo, ela vai negociar diretamente com a agregadora/distribuidora. A partir daí começa o processo de entrega. Esse processo envolve alimentar a agregadora/distribuidora com materiais necessários, como arquivos de vídeo, material de arte para divulgação, etc. Aqui tem um importante ponto: talvez a Netflix queira os direitos para circulação internacional da sua obra. Você precisará de parceiros internacionais para criar legendas e artes regionais para o seu material promocional. É claro, a Netflix também pode recusar o seu filme, o que não significa que ele falhou em algum teste de qualidade ou algo do tipo (o que é fácil de concluir, pois a empresa não oferece muito feedback). Talvez eles tenham adquirido algo muito semelhante naquela semana para o catálogo, talvez a equipe de aquisição esteja focada em outros gêneros. São muitos os fatores envolvidos. Diferenças entre Netflix e Amazon Prime Video A Amazon Prime Video entrou forte no Brasil e já está desenvolvendo grandes projetos nacionais. O que isso significa para o autor brasileiro? Mais oportunidades para levar seu projeto para uma plataforma de exibição. A questão é que a lógica entre Amazon e Netflix é diferente. A Netflix licencia conteúdos para transmissão online e paga um valor "x" para exibir o seu filme por um determinado período. Por outro lado, o modelo de negócios da Amazon Prime é outro: eles não pagam uma licença de título. Através da Amazon, você na verdade é pago por "horas assistidas". Esse modelo reforça ainda mais a importância de um bom plano de divulgação, pois você é estimulado financeiramente a atrair um grande público para o seu conteúdo. #Netflix #comovenderoseufilme #cinemaindependente #streaming

  • 7 dicas para roteiristas iniciantes

    Tem dúvidas sobre como otimizar os primeiros passos da sua carreira no audiovisual? A roteirista Leda Ene compartilha suas dicas de ouro Acreditamos que a democratização do conhecimento é um importante passo em direção a um meio audiovisual cada vez mais sólido e preparado para os desafios do mercado. Pensando nisso, estamos abrindo espaço para roteiristas e outros profissionais da área dividirem suas experiências e visões a respeito da criação artística. Nossa convidada de hoje é a roteirista Leda Ene, que coleciona prêmios em diversos festivais internacionais de roteiro pela Europa e EUA. Leda trabalhou como assistente de roteiro da série "Exterminadores do Além" (Warner Channel) e foi roteirista de esquetes para um projeto humorístico da atriz Adriana Nunes, integrante da "Cia de Comédia Os Melhores do Mundo". Atualmente, presta serviços para a Openthedoor Studios, produtora sediada em São Paulo com filial em Los Angeles. Como toda roteirista brasileira, Leda Ene teve de descobrir o seu próprio trajeto no mercado audiovisual e agora compartilha com nossos leitores um pouco do que aprendeu nos últimos anos. Quer saber como otimizar a sua carreira e melhorar a sua postura como roteirista iniciante? Acompanhe as dicas a seguir! 7 dicas para roteiristas iniciantes por Leda Ene 1. Não deixe que as regras travem sua criatividade Um roteiro precisa ter personalidade, voz própria. E é a sua criatividade que dará essa autenticidade ao seu roteiro, portanto, deixe-a voar. Vejo roteiristas que travam todo seu processo criativo porque ficam pensando em regras de roteiro. Liberte-se disso. Escreva à vontade. Coloque no roteiro tudo que você quer escrever, sem amarras. Quando terminar, faça os ajustes técnicos de roteiro. Você descreveu demais? Enxugue. O diálogo está muito longo? Diminua. Ficou literário? Deixe objetivo. O personagem X ficou sem função? Elimine-o. Permita-se escrever livremente primeiro. Nos próximos roteiros, você já vai começar a escrever dentro das regras e, com o tempo, elas passarão a ser naturais na sua escrita. 2. Aprenda a escrever barato Depois que você descobrir seu estilo criativo e passar a dominar as regras gerais de um roteiro, faça esse treinamento: comece a escrever barato. Acostume sua criatividade a trabalhar com limitações de orçamento (ex: poucas locações, poucos atores, poucas externas, poucos efeitos especiais, etc). Dessa forma, você harmoniza seu trabalho criativo com a realidade de mercado. Bons roteiros que demandam menos dinheiro são mais atrativos do que aqueles que exigem milhões. Além disso, um roteirista capaz de criar soluções boas e baratas tem muito mais valor profissional do que aquele que só consegue ser criativo bolando cenas caríssimas. 3. Faça bom uso dos grupos de roteiristas Grupos de roteiristas no Facebook não são escolas de roteiro. São o mundo real, o mercado, vitrine para o seu trabalho. Sempre há produtoras de porte e profissionais bem-sucedidos participando desses grupos. Por isso, a dica é: em vez de postar aquele roteiro que você sabe que ainda não está bom, escolha alguns colegas que têm mais experiência e peça ajuda inbox. Só publique seu roteiro para o grupo (ou seja, para o mercado ver) quando ele estiver vendendo o seu melhor. Dessa forma, você começa a construir uma imagem profissional muito positiva. 4. Deixe uma boa impressão ao fazer contato com profissionais Ao fazer um primeiro contato, capriche no texto, apresente-se brevemente e já informe qual o motivo da abordagem. Ex: “Olá xxxxx. Meu nome é xxxxx. Sou xxxxx, trabalho com xxxxx e gostaria de xxxxx”. Aproveite toda e qualquer oportunidade, por menor que seja, para criar uma boa impressão profissional. 5. Aproveite os festivais de roteiro Festivais de roteiro são um bom caminho. Ter premiações sinaliza para o contratante que o roteirista tem um material que vale a pena ser lido. E isso é tudo o que você precisa. 6. Saiba que o caminho de cada roteirista para atingir o sucesso profissional é único Ao ouvir outros profissionais falando sobre suas carreiras, nunca tome a experiência alheia (bem-sucedida ou fracassada) como regra para você. O caminho de cada pessoa para atingir o sucesso profissional é 100% único, individual. Aquilo que João diz que é impossível, você pode fazer facilmente e conseguir. Aquilo que José diz que é obrigatório, você pode ignorar e conseguir. Aquilo que Jorge diz que você precisa ter, você pode não ter e conseguir. 7. Capriche incansavelmente no seu roteiro Só pare de melhorá-lo quando ele estiver realmente vendendo o seu melhor. Para cada roteiro que eu escrevo, faço em média 100 tratamentos. Literalmente. Reviso e altero o roteiro do começo ao fim várias vezes por dia. Não importa se é longa, curta, série, esquete. Todos passam por esse processo. Eu só envio um roteiro para um possível contratante depois que ele passou por essa maratona de alterações e revisões incansáveis. Essa é uma rotina que eu recomendo fortemente que você tenha porque faz toda a diferença. Roteirista Leda Ene www.roteiristaledaene.com.br #roteiro #dicas #primeirospassos

  • Filmes brasileiros em festivais internacionais: qual a importância?

    Confira os filmes brasileiros nos principais festivais internacionais de 2020 e entenda porque é tão importante que nosso cinema circule mundo afora Todo mundo sabe que, para uma indústria florescer, é necessário se internacionalizar. No contexto atual do país, isso se torna absolutamente fundamental para a solidificação e desenvolvimento da indústria cinematográfica. Portanto, a difusão dos títulos e narrativas brasileiras pelos festivais e telas do mundo não só é bem-vinda como urgente. Para falar sobre isso, vamos traçar um panorama sobre a situação atual e listar alguns filmes brasileiros que andam fazendo bonito pelos festivais internacionais. Siga conosco! A urgência de se internacionalizar Os motivos principais para essa urgência de circular com nosso cinema por aí estão centrados nas incertezas culturais e políticas, já que o caos sociopolítico chegou com tudo para cima do audiovisual brasileiro. A ameaça é tão grande que já perdemos recursos, cortamos orçamentos e pioramos nossos editais pela ANCINE. A partir daí, percebemos a revolta da classe artística, não só nas redes sociais como também nos temas e abordagens dessa safra de filmes mais recente - como exemplo, "Bacurau" de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, ou "Democracia em Vertigem", documentário de Petra Costa. O caso de Bacurau, por exemplo, é interessante. No filme, o que prevalece é a vontade de fazer um filme de gênero, um produto tipo-exportação que carregue muito da realidade brasileira em forma de nordestern. Apostar no gênero para traçar um panorama poético é uma ótima estratégia de internacionalização, já que os símbolos narrativos de um filme de gênero são realmente universais e movimentam bastante as bilheterias. Sobre isso, Juliano Dornelles conta ao El País que "os filmes de gênero são muito mais fortes quando o mundo está alimentando ideias e realidades absurdas. E nosso país é muito rico em absurdos, há alimento para mais de dois mil filmes. Bacurau é só mais um". Além de carregar uma narrativa sólida, bem executada e altamente crítica para o exterior, Bacurau levou o Prêmio de Júri na 72ª edição do Festival de Cannes, um dos festivais de cinema mais privilegiados do mundo. Um filme de gênero desse estilo também tem espaço nos festivais, que são importantes plataformas de reconhecimento e negócios para a carreira do cineasta. Portanto, é muito interessante ver o filme brasileiro como um produto de reflexão e comunicação - de nossos medos como uma nação, incertezas, hábitos culturais e talento - sendo bem recebido nessa plataforma tão importante. Para quem vê de fora, chama a atenção nossa capacidade de articulação dentro desse universo de "filme-protesto", "filme-espelho" ou outras noções. Construímos filmes delicados, fortes, coesos. E isso reflete na entrada de capital de investimento internacional, como as milhares de co-produções, filmagens locais, sucesso de produções de streamings e investimento estrangeiro geral no mercado cinematográfico brasileiro. Não é só a Europa ou os EUA - o resto do mundo está de braços abertos para conhecer como nós pensamos e vemos a sociedade, a política, nossas relações e todos os outros elementos que vão da vida para a narrativa. Ou seja: agora, mais do que nunca, há uma urgência no cinema brasileiro de ser difundido, assistido, reconhecido e desenvolvido. A internacionalização coloca mais uma pressão (ótima) em cima dessa situação, pedindo por mais recursos, mais realizações e mais difusão. O caso de sucesso internacional do cinema sul-coreano Um bom exemplo para refletir sobre a importância da internacionalização é observar a política cultural da Coréia do Sul. Com o recente sucesso absoluto de "Parasita" (Parasite, 2019), de Bong Joon-ho, o mundo voltou seus olhos novamente às telas sul-coreanas. O sucesso do cinema da Coréia do Sul não é necessariamente novidade, mas ainda está relativamente no início da sua jornada de glória internacional. Em um documento oficial, a superintendente de análise de mercado da ANCINE Luana Rufino  nos explica muito bem o trajeto deles. Começando pelo salto do market share da indústria audiovisual sul-coreana num espaço de 20 anos, por exemplo, vemos em números o efeito de um decente e coeso investimento cultural por parte do governo: em 1994, o cinema nacional possuía um market share de apenas 2,1%. Já em 2014, alcançou a marca de 57% (contra 12% do market share do cinema no Brasil em 2015). O que mudou no audiovisual sul-coreano nesse meio tempo? A implementação de políticas públicas adequadas às especificidades nacionais, atuantes em todo o processo audiovisual: conhecimento, desenvolvimento, produção e distribuição. Um bom exemplo é a implementação da “Motion Picture Promotion Law” em 1995, com o intuito de atrair capital para o estabelecimento de um fundo setorial (assim como no Brasil) e para a criação de incentivos fiscais para o setor audiovisual. Essa política de promoção foi até mesmo chamada de “Learning from Hollywood” (Aprendendo com Hollywood), se inspirando nos incentivos iniciais presentes na mega indústria norte-americana. Nesse contexto, a idéia da internacionalização inteligente também foi bem aplicada: depois da crise financeira asiática, o governo sul-coreano voltou a orientar as políticas de exportação do audiovisual nacional como uma nova iniciativa econômica. Nesse processo, Luana explica que "houve uma articulação das políticas públicas para envolver as demais empresas sul-coreanas que atingissem não só os conglomerados (chaebols), mas também a indústria que é independente dessas grandes empresas, no sentido de dar mais estabilidade ao crescimento do setor". Outro exemplo um pouco mais superficial e rápido, nesse mexmo contexto, é a carreira do autor Bong Joon-ho, também vencedor de Cannes, do BAFTA desse ano e concorrente ao Oscar, em seis categorias, por Parasita. O roteirista e diretor iniciou sua carreira na Coréia do Sul e, após seu trabalho em "O Expresso do Amanhã" (Snowpiercer, 2013), co-produção entre os EUA e a Coréia do Sul, sua internacionalização foi instantânea e lhe possibilitou usufruir de outros trabalhos junto a Hollywood. Parasita, contudo, é um fenômeno internacional de alma essencialmente coreana. É um filme que lida com a desigualdade presente em diversos países, mas através de uma linguagem narrativa específica da terra natal de Bong. Ao falar sobre Parasita em Cannes, ele afirma: Eu me vejo como um diretor de cinema de gênero. Faço filmes de gênero, mas não gosto de seguir os códigos convencionais para filmes de gênero. Eu tento transmitir mensagens sobre a sociedade através desses códigos quebrados, e desta vez estou muito satisfeito por ter conseguido fazer o filme com esses atores fabulosos. Para Bong, o caminho para a internacionalização se deu através da aposta nos filmes de gênero - unido ao ambiente econômico-cultural coreano favorável. A realização de filmes de gênero, obviamente, não é o único caminho para a difusão do nosso cinema. Pelo contrário: a homogeneização do cinema só tem a contribuir com aspectos negativos à cultura dos países. A questão, portanto, é fazer bom uso das políticas públicas e pensar em narrativas essencialmente brasileiras que conduzam o olhar externo para as nossas questões de um modo bem articulado e interessante - como fez Bacurau, Cidade de Deus, Central do Brasil, O Beijo da Mulher-Aranha e tantos outros. E a internacionalização no audiovisual brasileiro? Olhando para nosso panorama atual, entendemos que um dos pilares que sustenta nossa produção é o Fundo Setorial do Audiovisual, existente desde 2006. Ele promove fomento audiovisual com retorno fiscal às empresas que contribuem. Leia mais aqui. Porém, atualmente, acabamos sofrendo grandes danos ao FSA (inclusive, à própria ANCINE). Em setembro de 2019, por exemplo, o presidente Jair Bolsonaro apresentou projeto de lei prevendo um corte de 43% do orçamento do FSA. De acordo com o Jornal Nexo, o fundo terá apenas R$415,3 milhões em 2020, o menor valor nominal desde 2012. Esse corte atinge principalmente os "investimentos destinados a obras com alto potencial de retorno comercial". Além disso, não só a questão da produção, mas também da internacionalização, teve sua integridade ameaçada: a ANCINE prevê um sistema de apoio a festivais chamado Programa de Apoio à Participação Brasileira em Festivais, Laboratórios, Workshops, Eventos de Mercado e Rodadas de Negócios Internacionais. Esse programa teve, no ano passado, uma categoria cortada de seu escopo de auxílio, além de atrasos no reembolso dos realizadores. Em 2019, o apoio contou com dois tipos (A e B), enquanto possuía mais um tipo (C) anteriormente. Os apoios a serem concedidos pela agência em 2019 foram: a) Apoio A – Concessão de cópia legendada, envio de cópia e apoio financeiro para a promoção do filme (44 Festivais); b) Apoio B – Concessão de apoio financeiro para a promoção do filme (56 festivais). Veja a lista completa dos festivais internacionais apoiados pela ANCINE Como vemos, o apoio da ANCINE e do governo é uma ferramenta essencial para a boa distribuição de filmes brasileiros por aí (mesmo que não de modo comercial), já que festivais maiores são sempre palcos para rodadas de negócio e networking. É onde os filmes são vistos, reconhecidos e onde carreiras são sedimentadas. Outra etapa do processo cinematográfico que fica assegurada com esse apoio é o desenvolvimento artístico dos cineastas, já que workshops e laboratórios contribuem imensamente para a formação. Quanto aos FSA, então, nem se fala. Com os cortes, o cinema nacional fica negligenciado e acaba não promovendo todo o enorme retorno social e financeiro ao país que costuma trazer. Essa obstrução também faz com que artistas precisem buscar iniciativas privadas para custear as produções, o que fecha as portas do audiovisual para muitos. Ainda assim, sempre perseverante, o Brasil vem aparecendo nos festivais mais importantes por aí, inspirando prestígio para produções super diversificadas. Um exemplo é o Festival de Sundance, criado por Robert Redford e considerado um dos mais importantes festivais do mundo. A edição de 2019 do evento, por exemplo, selecionou 4 produções brasileiras entre os 12 filmes principais. Já o Festival de Berlim de 2019 deu o Prêmio da Paz para o longa “Espero a Tua (re)Volta”, de Eliza Capai. Outros filmes premiados foram “Bixa Travesty“, de Cláudia Priscilla e Kiko Goifman, e “Tinta Bruta”, de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon - esse último levando o Teddy Award de melhor longa. Fizemos bonito também na categoria do VR, com o prêmio de Melhor Experiência Imersiva para o curta imersivo "A Linha", de Ricardo Laganaro. Em conclusão: internacionalização é uma questão instrínseca ao nosso desenvolvimento como indústria. É ótima a apreciação externa e participação de cineastas brasileiros em workshops, laboratórios e festivais mundo afora, pois isso contribui para a nossa solidificação de produção cultural. Isso estimula de modo muito positivo uma indústria ameaçada pela censura, corte de verbas e nulificação das oportunidades. É preciso estar consciente do que a indústria cinematográfica precisa para assim podermos defender nossas necessidades. Nesse contexto, trazemos abaixo uma lista atualizada de filmes brasileiros em festivais internacionais, conforme anunciado até fevereiro de 2020. Confira. Brasil nos festivais internacionais em 2020 Nossa lista contempla os títulos mais recentes desse primeiro trimestre de 2020. Leia abaixo: 92º Oscar (92nd Academy Awards) - 9 de fevereiro Melhor Documentário: "Democracia em Vertigem", de Petra Costa (documentário, Netflix). Festival SXSW (South by Southwest) - 13 a 22 de março Mostra Global: "Medida Provisória", de Lázaro Ramos. 70º Festival de Berlim (Berlin International Film Festival/Berlinale) - 20 de fevereiro e 1º de março Prêmio Principal (Urso de Ouro): "Todos os Mortos", de Caetano Gotardo e Marco Dutra (co-produção entre Brasil e França). Mostra Panorama: "Cidade Pássaro", de Matias Mariani; "O Reflexo do Lago", de Fernando Segtowick (documentário), "Vento Seco", de Daniel Nolasco, "Un Crimen Común", de Francisco Márquez (co-produção entre Brasil, Argentina e Suíça) e "Nardjes A.", de Karim Aïnouz. Mostra Generation: "Alice Júnior", de Gil Baroni, "Meu Nome é Bagdá", de Caru Alves de Souza, "Irmã", de Luciana Mazeto e Vinícius Lopes, e o curta "Rã", de Ana Flavia Cavalcanti e Julia Zakia. Forum: "Vil, Má", de Gustavo Vinagre, e "Luz nos Trópicos", de Paula Gaitán. 49º Festival Internacional de Cinema de Roterdã (International Film Festival Rotterdam/IFFR) - 22 de janeiro e 2 de fevereiro Tiger Competition: "Desterro", de Maria Clara Escobar. Big Screen Competition: "Um Animal Amarelo", de Felipe Bragança, e "Mosquito", de João Nuno Pinto (co-produção com a brasileira Delicatessen Filmes; filme de abertura). A programação conta com outras produções brasileiras, como: "A Morte Habita à Noite", Eduardo Morotó, na Bright Future Main Programme; o curta Swinguerra, de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, na Bright Future Short; Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles (só exibição), e A Febre, de Maya Da-Rin (só exibição). Sabe de mais algum filme brasileiro selecionado para um festival internacional em 2020? Comente para podermos adicionar à lista. #FilmesBrasileiros #Indústria #Festivais #Produções #FSA #Lista

  • Como fazer bons contatos no mercado audiovisual?

    Quer entrar no mercado e não sabe como? Você pode estar usando a abordagem errada! Descubra as dicas para um bom networking Você é um roteirista iniciante e não sabe como chegar nas pessoas que podem te ajudar a tirar a sua ideia do papel? Trabalhar com audiovisual é viver constantemente na busca por novos contatos e oportunidades de explorar o seu talento. Como fazer isso? Em sua página pessoal, o produtor e manager Brian Medavoy compartilhou algumas dicas para conquistar novas e boas conexões em Hollywood. Suas dicas são pertinentes para qualquer mercado audiovisual, mostrando que existe uma forma eficaz de navegar pela indústria do entretenimento. Medavoy divide suas dicas em 3 diferentes fases, propondo um sentido para o seu plano de networking. Aqui, vamos resumir os principais apontamentos do produtor, buscando paralelos com a nossa própria realidade. Fase 1 - Criar uma lista Networking não significa fazer conexões com toda e qualquer pessoa que cruzar o seu caminho (embora muita gente faça isso). É preciso, primeiro, estabelecer o perfil do profissional que faz mais sentido para o seu objetivo no mercado. Medavoy sugere que você estabeleça, primeiro, de 3 a 4 “perfis de profissionais” para você ir atrás. Não é o momento de pensar em nomes, apenas em perfis. Como roteirista, é bacana pensar em produtores que financiam desenvolvimento de projetos ou showrunners com salas de roteiro para preencher, por exemplo. Você já tem dois perfis para começar a sua lista. Fase 2 - Pesquisa Agora que você tem sua lista de perfis de profissionais é hora de pesquisar e aprender ao máximo a respeito dessas pessoas. Pessoalmente, a falta de pesquisa é um dos erros que mais reparo no mercado. Muito roteirista iniciante aposta em uma abordagem direta, mas que denota que não houve uma pesquisa prévia. Abordagens com perguntas que demonstram que a pessoa nem leu a “bio” do site da produtora, ou sequer duas linhas sobre o trabalho do profissional que ela busca contatar. Medavoy ensina: “Quanto mais você souber a respeito da pessoa que você busca conexão, melhores as suas chances de concretizá-la”. O que pesquisar, afinal de contas? O background do profissional, como ele chegou onde ele está hoje, seus projetos mais recentes, quais os seus interesses pessoais, etc. Buscar pelas redes sociais que ele mais utiliza também é muito importante dependendo de como vai ser a sua abordagem. Uma última pergunta para você ter em mente antes do contato: como esse profissional pode me ajudar? Fazer aquele contato bacana com um roteirista super badalado pode ser ótimo… Mas não tão promissor a curto prazo se ele estiver engajado em um longo projeto pessoal, por exemplo. Você quer profissionais que te ajudem a chegar no seu objetivo, não é? Faz parte da sua pesquisa entender se aquele contato que você pesquisou realisticamente poderá ampliar as suas perspectivas profissionais. Não pense apenas na conexão, pense no que ela pode trazer para você. Fase 3 - Entre em contato Com a lista e a pesquisa feita é hora de entrar em contato. Antes de qualquer coisa o texto sugere um primeiro e importante ponto: o respeito. Entenda quando parar, não cruze a linha do aceitável e não faça abordagens “agressivas”. Respeite os limites da pessoa. Aqui não existe muito mistério. Medavoy traz as duas maneiras básicas de fazer esse contato: de forma casual ou direta. Formas casuais envolvem interações genuínas em redes sociais, eventos sociais e outras oportunidades para uma breve apresentação e conexão legítima. A forma direta é quando você entra em contato de um jeito mais formal, com uma abordagem especificamente ligada ao seu objetivo profissional. Um contato para uma reunião, uma aproximação com a ideia de apresentar um pitching, um e-mail de apresentação, etc. . Outra observação: a abordagem indireta pode ser uma ponte para a apresentação “formal”, mas é preciso ter limites. É muito inconveniente, em um evento social descontraído, receber uma inusitada apresentação de projeto. Por outro lado, vejo muito potencial em e-mails bem elaborados. Seja sucinto, informativo, prestativo (o que você tem para oferecer?) e direto em seus objetivos. Tente marcar uma conversa, mostre sua disposição para apresentar o seu trabalho e deixe claro que o contato não é aleatório, pois você fez a pesquisa na fase 2, não é mesmo? Que lição tirar disso tudo? Não existe necessariamente uma fórmula para criar boas conexões, mas um sentido para a sua abordagem. Essas 3 simples fases descritas aqui já podem ajudar na hora de pensar no que fazer e no que não fazer também. O próprio texto reforça: “isso vai funcionar se você persistir, mas não vai acontecer do dia para a noite”. É preciso produzir, circular, manter contatos e aprender com cada etapa desse processo. #cinema #audiovisual #networking #contatos

  • Bong Joon Ho revela detalhes sobre a série baseada em "Parasita"

    Premiado internacionalmente, o autor traz informações inéditas sobre o projeto em desenvolvimento com a HBO Em seu percurso internacional por festivais, o filme "Parasita" (Parasite, 2019) conquistou o mercado e uma legião de fãs, mas agora também já deixou sua marca na história do cinema mundial. O filme de Bong Joon Ho se tornou a primeira obra sul-coreana a ser indicada para as categorias "Melhor Filme" e "Melhor Filme Estrangeiro" do Oscar. Paralelamente a isso, o filme também concorre às categorias "Melhor Roteiro Original", "Melhor Montagem", "Melhor Direção" e "Melhor Design de Produção". Bong Joon Ho conversou com a Variety sobre essa avalanche de indicações: "Eu não criei o filme para todas essas indicações, mas de alguma forma tudo isso aconteceu. Eu fiquei particularmente muito feliz em receber as indicações para montagem e design de produção. Todos eles são grandes mestres com longas carreiras e eu fiquei muito feliz em vê-los indicados..." Com seis indicações ao Oscar e a Palma de Ouro em Cannes, o assunto sobre um possível remake do consagrado filme sul-coreano ganhou a mídia. O diretor nega a possibilidade de uma adaptação americana de "Parasita", mas traz detalhes sobre a série em desenvolvimento. A ideia não é adaptar, mas "expandir o universo". A tríade Bong Joon Ho, Adam McKay e HBO A respeito do projeto de série ainda em fase inicial, mas que começa a tomar forma Bong Joon Ho comenta também à Variety: "Quando eu penso em uma série limitada, eu realmente a imagino como um filme expandido. Assim como 'Fanny e Alexander' (Fanny and Alexander, 1982) do Ingmar Bergman, onde você tem uma versão de 3 horas de duração para o cinema e uma versão de 3 horas para a TV. Então o meu objetivo é criar uma versão expandida de alta qualidade de 'Parasita'". No começo de janeiro já surgiu a notícia de uma parceria entre o autor sul-coreano e o diretor e produtor Adam McKay. Bong também fala um pouco sobre suas perspectivas em trabalhar com o autor de "Vice" (2019). "Adam McKay e a HBO fizeram um ótimo trabalho com Succession. Trabalhar com esses artistas que criaram grandes trabalhos me inspira a atualizar essa tentativa de expandir o filme, explorando todas as ideias que eu tive no estágio de desenvolvimento do roteiro acerca daquilo que poderia ter acontecido entre as cenas para a série de TV", comenta Bong. O autor ainda revelou que durante o processo de desenvolvimento do roteiro ele teve de deixar de lado diversas ideias que não caberiam em uma obra de 2 horas de duração. Para Bong é muito interessante ter, agora, um tempo maior para explorar essas histórias. Bong ainda complementa que ele e McKay ainda não decidiram se a série irá se passar na Coréia do Sul ou se será uma adaptação totalmente norte-americana. "Ainda estamos no estágio inicial", explica Bong. #Parasita #cinemacoreano #AdamMcKay #BongJoonHo

  • Leia roteiros de séries premiadas em 2018 e 2019

    Trazemos 8 dos roteiros de série mais populares para inspirar novos jeitos de escrever narrativas seriadas Nos últimos anos, acompanhamos o lançamento de muitas séries e minisséries de TV e streaming super interessantes, tanto em termos narrativos como de produção. Nesse contexto, sabemos que todo roteirista, diretor e profissional audiovisual curte se ligar em assistir as séries mais populares do momento. Mas e quanto a ler os roteiros? Uma parte fundamental da carreira artística audiovisual é o estudo de estruturas, construções e caminhos narrativos existentes por aí. Isso pode ser exercitado através da leitura de roteiros, algo muito difundido no mercado hollywoodiano. Além de sanar a curiosidade de saber como o piloto da nossa série favorita (alô Succession) foi escrito, temos a oportunidade de ver na prática como se estrutura certas sequências dramáticas ou se expressa certos traços de personagem. Por isso, já trouxemos em outro post 10 roteiros de longas-metragens de destaque em 2019. Agora é a vez das narrativas seriadas que fizeram bonito nos últimos anos e que têm muito a oferecer. Veja nossa seleção abaixo! Roteiros de séries em destaque para ler Levando troféus em eventos de prestígio, como o Globo de Ouro e o Emmy, as séries abaixo possuem roteiros riquíssimos de ferramentas narrativas. Todos os roteiros são originais e em inglês. Se você tiver acesso a um roteiro brasileiro original e atual, compartilhe conosco pelo Facebook! 1. Succession (HBO) Sinopse: Acompanha a disfuncional família Roy em seus empreendimentos bilionários e intermináveis jogos de poder. Por que ler? Além de ter vencido 2 Globos de Ouro, 2 Emmys, 1 BAFTA e mais uma penca de prêmios, Succession é um drama de peso em todas as questões estético-narrativas. O criador Jesse Armstrong já havia exercitado muito bem a criação de personagens complexos na comédia política "Conversa Truncada" (In The Loop, 2009). Em Succession, que é sobre uma família que navega pela corrupção corporativa nos EUA, ele traz uma constante relação de poder que é articulada entre os personagens, resultando em diálogos impressionantes. O protagonismo aqui vai para personagens totalmente deploráveis, mas que prendem a atenção do espectador e oferecem reais dramas humanos. Confira o roteiro do episódio 10 da 1ª temporada e aproveite uma boa dose de excelente construção de personagens. Leia o roteiro da season finale (episódio 10) da 1ª temporada de Succession 2. Fleabag (BBC/Amazon Prime Video) Sinopse: Fleabag, uma jovem adulta, tenta lidar com a vida e relacionamentos em Londres enquanto enfrenta uma tragédia recente. Por que ler? A comédia assinada por Phoebe Waller-Bridge teve um sucesso absoluto com sua segunda temporada, produzida pela Amazon. Arrecadando 39 prêmios (até agora), inclusive 6 Emmys e 2 Globos de Ouro, Fleabag é uma adaptação semi-biográfica de uma peça dramática. Além disso, sua protagonista se utiliza da quebra da quarta parede para construir um diálogo cômico e honesto com o público. O roteiro de Waller-Bridge é original e traz abordagens narrativas simples, mas que possuem várias camadas em si. Leia o roteiro do episódio piloto de Fleabag Leia o roteiro do episódio piloto da 2ª temporada de Fleabag 3. Chernobyl (HBO) Sinopse: Acompanha os eventos de abril de 1986, quando uma explosão na usina nuclear de Chernobyl, na URSS, se torna uma das piores catástrofes provocadas pelo homem até hoje. Por que ler? O projeto de longa data do criador e roteirista Craig Mazin deu muito o que falar em 2019. Fazendo a limpa no Emmy 2019, ganhando 10 prêmios, a minissérie biográfica de drama ainda levou mais 2 Globos de Ouro e ficou no topo de audiência. Com um roteiro contemplativo e maduro, Chernobyl traz uma ótima versão de uma narrativa histórica. Confira o roteiro da minissérie para ter insights sobre como adaptar um evento histórico de peso para a televisão de modo elegante e autoral. Leia o roteiro do episódio piloto de Chernobyl 4. Barry (HBO) Sinopse: Um assassino por aluguel se muda para Los Angeles e encontra sua vocação nos palcos teatrais. Por que ler? Uma das surpresas da televisão foi Barry, a série de comédia/drama/ação co-roteirizada pelo ator e roteirista Bill Hader e o gigante Alec Berg (Seinfeld; Silicon Valley). Premiada no Emmy 2018 e 2019, a série traz um tom único e dificilmente categorizado - algo raro de se conseguir na televisão hoje em dia. A crítica do The Guardian até comparou a série a Breaking Bad pelo tratamento temático do mundo do crime, sempre um assunto que rende muito. Aproveite o piloto de Barry para uma boa aula sobre ritmo e maestria na construção de um autêntico universo narrativo. Leia o roteiro do episódio piloto de Barry 5. Homecoming (Amazon Prime Video) Sinopse: Heidi trabalha na Homecoming, uma instituição que ajuda soldados na transição para o cotidiano civil. Anos depois, quando o Departamento de Defesa questiona sua saída de lá, Heidi percebe que protagonizou uma história completamente diferente da que ela conta a si mesma. Por que ler? Um dos criadores de Homecoming, indicada ao Emmy e ao Globo de Ouro, é Sam Esmail, a mente por trás de Mr. Robot: Sociedade Hacker (Mr. Robot, 2015). Além de ser incrivelmente bem dirigida, a série apresenta seu ritmo misterioso no roteiro, onde cada detalhe do local é importante e narrativo. Em termos de atrativos principais, Homecoming é uma história que se passa em duas temporalidades. Elas se complementam e se contradizem de um modo impressionante, desaguando em atraentes técnicas de linguagem para denotar essas transições (tanto na tela quanto no papel). Desafie seu vocabulário de temporalidades e ferramentas narrativas lendo o roteiro de Homecoming. Leia o roteiro do episódio piloto de Homecoming 6. The Crown (Netflix) Sinopse: Segue as rivalidades políticas e o romance durante o reinado da rainha Elizabeth II e os eventos que moldaram a segunda metade do século XX. Por que ler? Outra adaptação biográfica de sucesso, The Crown ajudou a elevar a idéia de série "original Netflix", trazendo uma super produção sobre a monarquia britânica. Com uma protagonista obviamente muito ativa na trama, a série do criador Peter Morgan traz um ambicioso panorama histórico lotado de personagens e vozes diferentes. Além disso, a personagem da Rainha Elizabeth II, por exemplo, precisava ser construída de modo a poder ser devidamente interpretada por várias atrizes diferentes (premiadas, inclusive). Portanto, é um estudo de personagem e dramas internos que culminam em grandes feitos. Descubra um pouquinho dos artifícios usados para isso lendo o piloto da série. Leia o roteiro do piloto de The Crown 7. Fargo (FX/Netflix) Sinopse: Várias crônicas sobre enganos irônicos, intriga e assassinatos dentro e ao redor de Minnesota. No entanto, todos esses contos misteriosamente levam de um jeito ou de outro a Fargo, na Dakota do Norte. Por que ler? Um dos feitos da narrativa antológica atual, Fargo é uma adaptação bem livre do universo fílmico do filme homônimo de Joel e Ethan Coen. Criada por Noah Hawley, a série conta histórias diferentes a cada temporada, mas com enredos que conservam aspectos muito semelhantes entre si. A construção e orquestração de um universo próprio e cheio de regras específicas fica muito evidente já no roteiro. Gosta de uma boa narrativa irônica e cheia de truques narrativos divertidos? Experimente ler o piloto de Fargo e acompanhar a quarta temporada, que estréia ainda esse ano. Leia o roteiro do piloto de Fargo 8. Objetos Cortantes (HBO) Sinopse: Uma repórter enfrenta os demônios psicológicos de seu passado quando ela volta para sua cidade natal para cobrir um assassinato violento. Por que ler? A adaptação televisiva do livro homônimo de Gillian Flynn tem muitos atributos atraentes já no roteiro. Criada pela experiente roteirista e produtora Marti Noxon (Buffy: A Caça-Vampiros; UnREAL), Objetos Cortantes (Sharp Objects) também venceu um Globo de Ouro, aposta num protagonismo feminino forte e muitos cortes temporais. O modo como os flashbacks são introduzidos na narrativa é belo e sutil, trazendo uma força artística admirável para o texto dramático. Outro ponto forte são as relações entre as personagens, bem estabelecida e muito mutável ao longo da série. Para quem curte adaptações literárias bem feitas e ótimas protagonistas femininas, o roteiro de Objetos Cortantes tem muito a oferecer. Leia o roteiro do episódio piloto de Objetos Cortantes Essa foi a nossa seleção dos melhores roteiros de séries dos últimos anos para ler. Qual o seu favorito? Qual outra série você gostaria de ver na lista? #roteiro #séries #minissérie #downloads #TV #streaming

  • Momentos de destaque no Golden Globes 2020

    Quem fez história na polêmica 77ª edição do Globo de Ouro em 2020? Confira nossa seleção e a lista completa dos vencedores do prêmio Neste domingo (5), aconteceu em Los Angeles a 77ª edição do Globo de Ouro, trazendo muitos destaques tanto nos vencedores como no curso do próprio evento. Apresentado pelo comediante britânico Ricky Gervais pela quinta vez, o evento já iniciou cheio de piadas e opiniões mordazes por parte do ator. Além disso, foram 25 categorias premiadas, sendo 14 delas de cinema e 11 de TV. Dentro das premiações, tivemos algumas situações históricas e emocionantes – sempre acompanhadas de discursos políticos por parte dos artistas. Quer saber mais? Acompanhe nosso post e fique por dentro dos momentos de destaque na 77ª edição do Globo de Ouro! Os momentos mais marcantes do 77º Globo de Ouro O discurso do apresentador Ricky Gervais Felicity Huffman, a Igreja Católica, o filme "Cats", Joe Pesci, Judi Dench e James Corden receberam a sarcástica atenção de Ricky Gervais durante seu monólogo de abertura do Golden Globes. Contudo, quem sofreu o maior impacto das críticas do apresentador foi a própria Hollywood. "Se você ganhar um prêmio hoje à noite, não use-o como plataforma política para fazer um discurso político. Você não está em posição de dar uma palestra ao público sobre qualquer coisa, você não sabe nada sobre o mundo real", alertou Gervais aos indicados. "A maioria de vocês passou menos tempo na escola do que Greta Thunberg". Gervais ainda disse que "The Morning Show", série do streaming Apple TV Plus, "foi fabricada por uma empresa que administra lojas de trabalho escravo na China". O comediante criticou a hipocrisia de celebridades com seus discursos moralizantes enquanto muitos trabalham para gigantes corporativos como Amazon, Apple e Disney. Nesse momento, Gervais ainda afirma que "se o ISIS iniciasse um serviço de streaming, Hollywood chamaria seus agentes" e transformaria o serviço num sucesso. O co-criador da série "The Office" ainda trouxe mais momentos marcantes durante seu monólogo: chamou a Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, ou HFPA, de racista; o filme "Dois Papas" da Netflix como um filme sobre pedófilos por causa do escândalos da igreja e criticou a falta de qualquer mulher sendo indicada para a categoria de Melhor Diretor. Gervais ainda declarou que não se importa mais com a premiação – e que, na verdade, nunca se importou. Ele ainda se dirigiu aos indicado quando disse: “(…) se você ganhar, suba, aceite seu pequeno prêmio, agradeça ao seu agente e a seu Deus e vá se f*der". Melhor Trilha Sonora Original para Hildur Guðnadóttir Quando Hildur Guðnadóttir, compositora da trilha sonora do filme "Coringa", ganhou o prêmio de Melhor Trilha Sonora Original nesse domingo, a vitória teve um significado histórico: a islandesa foi a segunda mulher a ganhar o prêmio e se tornou a primeira vencedora solo feminina na história da categoria. A compositora e violoncelista ficou sem palavras quando aceitou o troféu. Guðnadóttir venceu os indicados Randy Newman (História do Casamento), Alexandre Desplat (Adoráveis Mulheres), Thomas Desman (Alexandre Menezes), Thomas Newman (1917) e Daniel Pemberton (Motherless Brooklyn). Melhor Atriz em Filme de Comédia ou Musical para Awkwafina Outro destaque foi para a atriz e cantora Awkwafina, que se tornou a primeira atriz de ascendência asiática-americana a ganhar um Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz em Filme de Comédia ou Musical. A atriz levou para casa o prêmio por seu papel em "The Farewell", da diretora Lulu Wang, que segue a história de uma jovem chinesa-americana que volta para a China para se despedir de sua avó. O filme foi baseado na própria experiência de Wang. Nos bastidores, Awkwafina disse que se surpreendeu ao descobrir que foi a primeira mulher asiática-americana a vencer nesta categoria: “É incrível", disse ela, "mas você espera que haja mais. Espero que seja apenas o começo". O discurso emocionado de Joaquin Phoenix O ator Joaquin Phoenix é conhecido por não ser fã de shows de prêmios de Hollywood, mas seu discurso de aceitação no Globo de Ouro de Melhor Ator em Filme de Drama por "Coringa" se destacou entre os demais. “É muito bom que tantas pessoas tenham vindo e enviado seus desejos para a Austrália, mas temos que fazer mais do que isso, certo?", comenta. "Nem sempre fui um homem virtuoso", diz o ator, "Estou aprendendo que muitos de vocês nesta sala me deram várias oportunidades para acertar”. "É ótimo votar, mas às vezes temos que assumir essa responsabilidade por nós mesmos e fazer mudanças e sacrifícios em nossas próprias vidas", afirma Phoenix, criticando a característica hipocrisia hollywoodiana. Em seu discurso cheio de palavrões emocionados dirigido aos seus competidores na categoria de Melhor Ator, Phoenix afirma que "não existe melhor ator". Ele diz: “Todos sabemos que não há essa m*rda de competição entre nós. Eu sou aluno de vocês. Nem acredito no belo trabalho hipnotizante e único que vocês fizeram este ano. Mas realmente me sinto honrado por ter sido indicado com vocês". Os outros indicados na categoria foram Christian Bale por "Ford vs Ferrari", Antonio Banderas por "Dor e Glória", Adam Driver por "História de um Casamento" e Jonathan Pryce por "Dois Papas". O discurso feminista de Michelle Williams Outro discurso muito impactante foi o de Michelle Williams, que venceu a categoria de Melhor Atriz em Série Limitada ou Filme para TV por “Fosse/Verdon”. Ela falou amplamente sobre a importância de as mulheres ponderarem sobre suas escolhas políticas. "Quando você coloca isso [a liberdade de escolha] nas mãos de alguém, reconhece as escolhas que eles fazem como ator. Momento a momento, cena a cena, dia a dia. Mas você também reconhece as escolhas que eles fazem como pessoa. [...] Sou grata pelo reconhecimento das escolhas que fiz e também por ter vivido um momento em nossa sociedade em que a escolha existe, porque como mulheres e como meninas, coisas podem acontecer ao nosso corpo que não são nossa escolha ", disse Williams. "Eu tentei o meu melhor para viver uma vida de minha própria autoria, e não apenas uma série de eventos que aconteceram comigo. Mas um que eu podia me afastar, olhar e reconhecer minha letra por toda parte. Às vezes, bagunçada e rabiscada, às vezes cuidadosa e precisa. Mas que eu esculpi com minha própria mão. E eu não seria capaz de fazer isso sem empregar o direito de uma mulher de escolher". A atriz venceu contra as indicadas Kaitlyn Dever por “Inacreditável”; Joey King por “The Act”, Helen Mirren por “Catarina, a Grande” e Merritt Wever por “Inacreditável”. Outros discursos de destaque Hollywood acabou ignorando a mensagem de Gervais e trazendo questões políticas em seus discursos de aceitação. Mediante à situação global de emergência, isso era de se esperar. Artistas como Ellen DeGeneres, Laura Dern, Cate Blanchett e Pierce Brosnan também mencionaram sua preocupação com os incêndios na Austrália, enquanto Russell Crowe, vencedor da categoria Melhor Ator em Série Limitada ou Filme para TV por "The Loudest Voice", vinculou o desastre às mudanças climáticas em uma mensagem lida por Jennifer Aniston. "Precisamos agir com base na ciência, mover nossa força de trabalho global para energia renovável e respeitar nosso planeta pelo lugar único e incrível que ele é", disse a mensagem de Crowe. Patricia Arquette, que venceu como Melhor Atriz Coadjuvante em Série, Série Limitada ou Filme para TV por "The Act", comentou em seu discurso: "Vamos ver o país à beira da guerra, os Estados Unidos da América. Um presidente twittando uma ameaça de 52 bombas, incluindo locais culturais; jovens arriscando suas vidas viajando pelo mundo; pessoas que não sabem se bombas cairão na cabeça dos filhos. E o continente da Austrália está pegando fogo”. Num tom ainda mais crítico, o ator Sacha Baron Cohen trouxe sua guerra com o fundador do Facebook ao discurso de apresentação do filme "Jojo Rabbit", indicado a dois prêmios. "O herói deste próximo filme é uma criança ingênua e mal orientada que espalha a propaganda nazista e só tem amigos imaginários", disse o comediante. "O nome dele é Mark Zuckerberg." O ator já havia deixado público seu repúdio à plataforma digital anteriormente, quando afirmou que o Facebook era um infeliz espaço para "racistas, misóginos, anti-semitas e abusadores de crianças". "Parasita" continua sua bela carreira de festivais Vencendo o Globo de Ouro por Melhor Filme Estrangeiro, o filme coreano "Parasita" continua sua ambiciosa carreira de prêmios internacionais. O diretor Bong Joon Ho realizou um comentário esperto em seu discurso de agradecimento: “Após superar a barreira das legendas, você será apresentado a muitos outros filmes incríveis”. O filme concorria com “The Farewell” (China); “Les Misérables” (França); “Dor e Glória” (Espanha) e “Retrato de Uma Jovem Em Chamas” (França). Destaques da televisão Houveram grandes vitórias da telinha para HBO, com "Succession" e "Chernobyl", Amazon e Phoebe Waller-Bridge, com "Fleabag", e Netflix, com "The Crown". A série "Succession", do criador Jesse Armstrong, levou dois merecidos prêmios, assim como o drama "Chernobyl". Olivia Colman, Patricia Arquette, Brian Cox, Stellan Skårsgard e Michelle Williams também fizeram bonito e levaram prêmios para casa. Assim como nos Emmys, o destaque acabou indo para produções de serviços de streaming. Lista completa de indicados e vencedores do 77º Globo de Ouro Confira abaixo a lista completa dos filmes e séries indicados e vencedores do prêmio: Melhor filme – Drama “O Irlandês” “História de um Casamento” “1917” (Vencedor) “Coringa” “Dois Papas” Melhor Filme de Comédia ou Musical “Era uma Vez em... Hollywood” (Vencedor) “Jojo Rabbit” “Entre Facas e Segredos" “Rocketman” “Meu nome é Dolemite” Melhor Atriz de Filme – Drama Cynthia Erivo (“Harriet”) Scarlett Johansson (“História de um Casamento”) Saoirse Ronan (“Adoráveis Mulheres”) Charlize Theron (“O Escândalo”) Renée Zellweger (“Judy - Muito Além do Arco-Íris”) (Vencedora) Melhor Ator de Filme – Drama Christian Bale (“Ford vs Ferrari”) Antonio Banderas (“Dor e Glória”) Adam Driver (“História de um Casamento”) Joaquin Phoenix (“Coringa”) (Vencedor) Jonathan Pryce (“Dois papas”) Melhor Ator de Filme - Musical ou Comédia Daniel Craig (“Entre Facas e Segredos”) Roman Griffin Davis (“Jojo Rabbit”) Leonardo DiCaprio (“Era uma Vez em... Hollywood”) Taron Egerton (“Rocketman”) (Vencedor) Eddie Murphy (“Meu nome é Dolemite”) Melhor Atriz em Filme Musical ou Comédia Awkwafina (“The Farewell”) (Vencedora) Ana de Armas (“Entre Facas e Segredos”) Cate Blanchett (“Cadê Você, Bernadette?”) Beanie Feldstein (“Fora de Série”) Emma Thompson (“Late Night”) Melhor Ator Coadjuvante em Filmes Tom Hanks (“Um Lindo Dia na Vizinhança”) Anthony Hopkins (“Dois Papas”) Al Pacino (“O Irlandês”) Joe Pesci (“O Irlandês”) Brad Pitt (“Era uma Vez em... Hollywood”) (Vencedor) Melhor Diretor - Filmes Bong Joon-ho (“Parasita”) Sam Mendes (“1917”) (Vencedor) Todd Phillips (“Coringa”) Martin Scorsese (“O Irlandês”) Quentin Tarantino (“Era uma Vez em... Hollywood”) Melhor Música - Filmes “Beautiful Ghosts” (“Cats”) “(I’m Gonna) Love Me Again” (“Rocketman”) (Vencedor) “Into the Unknown” (“Frozen 2”) “Spirit” (“O Rei Leão”) “Stand Up” (“Harriet”) Melhor Atriz Coadjuvante em Filmes Kathy Bates (“Richard Jewell”) Annette Bening (“O Relatório”) Laura Dern (“História de um Casamento”) (Vencedora) Jennifer Lopez (“As Golpistas”) Margot Robbie (“O Escândalo”) Melhor Animação “Frozen 2” “Como Treinar Seu Dragão 3” “Link Perdido” (Vencedor) “Toy Story 4” “O Rei Leão” Melhor Roteiro para Filme Noah Baumbach (“História de um Casamento”) Bong Joon-ho and Han Jin-won (“Parasita”) Anthony McCarten (“Dois Papas”) Quentin Tarantino (“Era uma Vez em... Hollywood”) (Vencedor) Steven Zaillian (“O Irlandês”) Melhor Atriz em Série de TV Musical ou Comédia Christina Applegate (“Dead to Me”) Rachel Brosnahan (“The Marvelous Mrs. Maisel”) Kirsten Dunst (“On Becoming a God in Central Florida”) Natasha Lyonne (“Boneca Russa”) Phoebe Waller-Bridge (“Fleabag”) (Vencedora) Melhor Ator em Série de TV Musical ou Comédia Michael Douglas (“O Método Kominsky”) Bill Hader (“Barry”) Ben Platt (“The Politician”) Paul Rudd (“Cara x Cara”) Ramy Youssef (“Ramy”) (Vencedor) Melhor Ator em Série Limitada ou Filme para TV Christopher Abbott (“Catch-22”) Sacha Baron Cohen (“The Spy”) Russell Crowe (“The Loudest Voice”) (Vencedor) Jared Harris (“Chernobyl”) Sam Rockwell (“Fosse/Verdon”) Melhor Ator Coadjuvante em Série, Série Limitada ou Filme para TV Alan Arkin (“O Método Kominsky”) Kieran Culkin (“Succession”) Andrew Scott (“Fleabag”) Stellan Skarsgård (“Chernobyl”) (Vencedor) Henry Winkler (“Barry”) Melhor Série – Drama “Big Little Lies” “The Crown” “Killing Eve” “The Morning Show” “Succession” (Vencedora) Melhor Série - Musical ou Comédia “Barry” “Fleabag” (Vencedora) “The Kominsky Method” “The Marvelous Mrs. Maisel” “The Politician” Melhor Filme Estrangeiro “The Farewell” “Dor e Glória” “Retrato de uma Jovem em Chamas” “Parasita” (Vencedor) “Les Misérables” Melhor Trilha Sonora Original para Filmes Daniel Pemberton (“Brooklyn - Sem Pai Nem Mãe”) Alexandre Desplat (“Adoráveis Mulheres”) Hildur Guðnadóttir (“Coringa”) (Vencedora) Thomas Newman (“1917”) Randy Newman (“História de um Casamento”) Melhor Série Limitada ou Filme para TV “Catch-22″ “Chernobyl” (Vencedora) “Fosse/Verdon” "The Loudest Voice" “Inacreditável” Melhor Atriz em Série Limitada ou Filme para TV Kaitlyn Dever (“Inacreditável”) Joey King (“The Act”) Helen Mirren (“Catarina, a Grande”) Merritt Wever (“Inacreditável”) Michelle Williams (“Fosse/Verdon”) (Vencedora) Melhor Atriz Coadjuvante em Série, Série Limitada ou Filme para TV Patricia Arquette (“The Act”) (Vencedora) Helena Bonham Carter (“The Crown”) Toni Collette (“Inacreditável”) Meryl Streep (“Big Little Lies”) Emily Watson (“Chernobyl”) Melhor Atriz em Série de TV – Drama Jennifer Aniston (“The Morning Show”) Olivia Colman (“The Crown”) Jodie Comer (“Killing Eve”) Nicole Kidman (“Big Little Lies”) Reese Witherspoon (“Big Little Lies”) Melhor Ator em Série de TV – Drama Brian Cox (“Succession”) Kit Harington (“Game of Thrones”) Rami Malek (“Mr. Robot”) Tobias Menzies (“The Crown”) Billy Porter (“Pose”) E você, o que achou da premiação do Globo de Ouro desse ano? #GloboDeOuro #GoldenGlobes #GoldenGlobes2020 #Premiações #destaquesGloboDeOuro

  • O que a Black List nos ensina sobre escrever uma logline?

    O que os projetos da Black List de 2019 têm de tão interessante? E como as loglines são construídas para chamar a atenção de executivos de Hollywood? Se você é um roteirista ligado no mercado norte-americano, certamente já ouviu falar da famosa Black List. Embora nosso mercado não seja exatamente o mesmo, temos muito a aprender com eles. Ano após ano, novos projetos procuram financiamento dentro do mercado do cinema. São roteiros que muitas vezes estão nas mãos de agentes, mas não fizeram ainda o trajeto para garantir um financiamento. É por isso que existe a Black List, uma forma de entender quais são os roteiros com as melhores avaliações de acordo com executivos de Hollywod. A lista não reúne “os melhores do ano”, mas os projetos que têm mais chances de virar um sucesso no cinema (comercial ou mesmo artístico). Isso tudo começou em 2005 com um executivo chamado Franklin Leonard. No começo, era simples: uma lista era compartilhada entre os produtores hollywoodianos que faziam parte da sua rede de contatos. O intuito inicial ainda é preservado: selecionar projetos promissores entre um mar de roteiros que circulam por aí. A lista foi responsável por alavancar carreiras e trazer às telas filmes que reconhecemos como grandes marcos do cinema, entre eles “O Discurso do Rei” (The King's Speech, 2010) e “Juno” (2007). Depois desses anos todos, o que a Black List nos revela sobre o mercado do roteiro e, inclusive, o domínio das agências? O que a lista de 2019 fala sobre a indústria do cinema A Black List 2019 revelou muito mais do que loglines de projetos promissores. Paralelamente a isso, podemos analisar também as agências de talentos que se destacaram pela quantidade de projetos que ganham espaço nessa disputada lista. Mais de 250 executivos da indústria do cinema foram responsáveis por votar nos seus projetos preferidos, trazendo, neste ano, Move On de Ken Kobayashi como principal destaque. O projeto está vinculado à agência UTA e ao Gotham Group. No entanto, foi a Verve que ficou no topo entre as agências com mais projetos indicados pelos executivos. Essa pontuação já representa uma mudança no mercado, pois ano passado o primeiro lugar ficou com a mega-agência CAA, que agora ficou em segundo. Os efeitos mais recentes da Black List também nos revelam um caminho mais inclusivo entre os projetos preferidos. Entre os destaques das últimas edições da lista e que foram lançados em 2019 estão “Queen and Slim” e “Talk-Show - Reinventando a Comédia" (Late Night). Ambos os projetos trazem mulheres negras como protagonistas ou coprotagonistas. Algumas loglines em destaque Quem acessa a Black List se depara com algumas informações sobre cada projeto: além dos créditos autorais, agências, produtoras e managers vinculados, há também uma logline normalmente sucinta (o que não é exatamente uma regra). De cara, podemos entender um pouco dos atributos de cada projeto a partir das loglines. Engana-se quem acha que elas são escritas sem qualquer apreço por fórmulas: na maioria delas podemos entender uma estrutura por trás e que vamos explicar a seguir. Antes de passar para a simples fórmula, vamos ler juntos algumas loglines de projetos bem diferentes entre si para entender o que há em comum entre eles (e, é claro, especular a respeito do que pode ter atraído a atenção dos executivos). Voicemails for Isabelle - Leah McKendrick Uma medíocre roteirista de TV se esforça para lidar com a morte da sua irmã caçula enviando ao seu celular mensagens de voz descrevendo todos os problemas que envolvem sua vida amorosa em Los Angeles. Sem que ela saiba, o número é transferido para outra pessoa. Agora, um arrogante corretor de imóveis de Nova York passa a receber as hilárias confissões por mensagem de voz, levando-o à Califórnia atrás da estranha que parece intimamente próxima a ele. Pontos fortes: embora longa, a logline faz duas coisas muito bem. A primeira é estabelecer um universo palpável em poucas palavras junto de um motivo humano para o drama, estabelecido em algo que tem raízes emocionais. A segunda é trazer um twist de perspectiva (será que a trama é apresenta pelos olhos do corretor?), mostrando uma conexão improvável que não se baseia apenas nessa estranha coincidência, mas em um conceito universal que explora as formas como lidamos com a perda. 10-31 - Peter Gamble e Ian Shorr Uma jovem leva seus sobrinhos para uma noite de “doces ou travessuras” e descobre um bilhete dentro da embalagem de um dos doces que alerta que há um assassino à solta no quarteirão. Pontos fortes: de cara qualquer pessoa consegue entender o universo, premissa e motivação em poucas palavras e sem detalhes exagerados. Depois, há também um conflito muito interessante entre a inocência de uma noite de “doces ou travessuras” e a jornada de sobrevivência. Tem tudo para ser um interessante thriller onde a concentração do drama em uma mesma noite traz a corrida contra o tempo como um elemento de grande atração. The Repossession - Megan Amram Vinte anos depois de um exorcismo fracassado, uma jovem tímida e quieta constrói uma amizade improvável com o obsceno demônio que a possuiu quando criança. Pontos fortes: é possível perceber uma quebra de expectativa que atrai a atenção, ainda mais quando promete um caminho nada comum para filmes do gênero. Aqui, o fator originalidade e irreverência ganham os destaques. Seria uma comédia obscura? É no mínimo inusitado. Isso prova que uma trama original não precisa de uma longa logline para apresentá-la, ainda mais quando a genialidade se encontra na simplicidade. Grandma Wants to Die - Patrick Cadigan Quando Ben se torna responsável por, sozinho, arcar com todas as contas do seu casamento apenas algumas semanas antes do grande dia, ele se vê obrigado a formar um pacto com a sua estranha avó Minnie. Ela lhe dará o dinheiro apenas se ele assinar o papel que permite o seu suicídio assistido. Ben concorda de bom grado, apenas para descobrir o verdadeiro plano de Minnie antes que ela parta… Destruir o casamento por dentro e aparentemente arruinar a vida de Ben. Pontos fortes: aqui o conceito por trás da obra é o que mais chama a atenção. Ele envolve uma situação inusitada e personagens que testam os limites morais, inclusive enfrentando alguns tabus como o suicídio. Se for para trazer uma opinião contrária, talvez pudesse ser mais sucinto. A informação sobre o plano de arruinar o casamento fica um pouco solta no meio disso tudo, mas não compromete o set-up genial. Esses são apenas alguns exemplos para entendermos a variedade de títulos, mas que ao mesmo tempo trabalham com alguns elementos em comum. Quais são esses elementos, afinal? Vamos explorar um pouco melhor essa questão. A logline e o triângulo do conflito Boas loglines são feitas para você ler e questionar: “como que eu não pensei nisso antes?”. Além disso, elas já permitem que você visualize o filme, o protagonista, seu tom, gênero e conflito base. Conseguir chegar nesse nível de construção não precisa ser um trabalho tão difícil, mas certamente não é intuitivo. Uma logline bem construída vai fazer toda a diferença na hora de atrair parceiros e investidores, mas também pode servir para você reavaliar algumas fraquezas do seu roteiro. Na hora de construir uma logline é muito comum perceber um protagonista pouco interessante, um contexto não tão original ou mesmo um problema de tom. Por isso, esse trabalho serve bastante para repensar esses e outros pontos, ajustando os “volumes da sua história”. Para explorar uma forma de construir uma logline, vamos trabalhar com uma versão adaptada do triângulo do conflito. Como funciona? Protagonista + força antagonista + os riscos/as perdas/os ganhos Considerando narrativas contemporâneas, é bom entender as nuances por trás desses elementos. Quando falamos em “antagonismo”, por exemplo, nem sempre estamos falando de um vilão claro que tem como objetivo destruir as tentativas do herói em completar a sua jornada. A questão do antagonismo na logline Podemos estar tratando de uma figura oponente, por exemplo, que nem sempre tem uma intenção maldosa dentro de si. Uma oponente pode ser aquela mãe amorosa que exagera na criação do filho, privando-o de se tornar um ser humano independente (considerando essa como a sua jornada). A força antagonista também pode ser contextual, como um regime autoritário. Forças antagonistas desta ordem são comuns em filmes romenos, por exemplo, como "Além das Montanhas" (Dupa dealuri, 2012). Também pode ser uma força interior, uma auto-sabotagem: talvez uma dependência química que o protagonista tem e constantemente testa sua força de vontade para seguir no caminho certo. Independente da forma como se manifesta essa força antagonista, se ela não estiver minimamente clara na própria logline, dificilmente alguém vai se interessar em ler o projeto. Esse, afinal, é o primeiro objetivo de uma logline. Erros comuns: deixar a força antagonista vaga, sem muita clareza, descrevendo apenas como “forças ocultas” ou “uma série de desafios”. Presume-se que há uma série de desafios, mas quais são eles? Você não precisa descrever em detalhes, mas precisa “tecer uma imagem” mais clara. Os riscos, as perdas, os ganhos Outra noção muito interessante envolve riscos, perdas e ganhos que fazem parte da equação da história. Entendemos que uma jornada é composta por desafios, certo? Eles apenas são considerados desafios quando há algo a ganhar ou a perder no final da mesma. Só uma questão: não é preciso explicitamente apresentá-los, mas deixar implícita a sua presença. Se a jornada do seu protagonista envolve, por exemplo, "viajar para uma cidade grande com intuito de fechar um importante negócio que pode livrar sua família das dívidas antes que eles percam a casa", entendemos o que ele tem a perder e a ganhar sem precisar de maiores detalhes. Pessoalmente, eu me deparo muito mais com loglines que até apresentam o que o protagonista tem a ganhar, mas falha na hora de apresentar os riscos. Tem também aquelas que confundem esse risco maior com desafios no caminho. Por exemplo: diversas batalhas contra figuras mágicas certamente representam séries de riscos para o personagem, mas será que é esse o risco maior da sua jornada? Queremos saber o que ela está arriscando com essa jornada e isso não necessariamente vai ser físico. Para descobrir, é preciso partir do ponto final da sua transformação. Talvez as figuras mágicas representem desafios entre o personagem e o seu objetivo, mas com a sua jornada ela arrisca algo maior. Talvez sua reputação, um laço afetivo muito importante, deixar seu sonho de lado para sempre… Enfim, não há limites para a imaginação. Em geral, loglines interessantes mostram o que os personagens protagonistas tem ganhar e a perder de forma sucinta. Parece uma coisa prática e engessada, mas devemos refletir sobre todas as possibilidades de perdas e sucessos que a própria vida nos impõe. É um exercício diário. Conclusão A Black List não é apenas uma lista útil para roteiristas promissores e independentes do mercado hollywoodiano. Ela também pode ser um instrumento de estudo para nós, roteiristas brasileiros que buscam algum espaço no mercado nacional e/ou internacional. Analisar loglines, roteiros e mesmo filmes lançados e que saíram da Black List é importante para entender os rumos da maior indústria do cinema e dos nossos próprios projetos. O que você acha disso? Você acompanha os projetos divulgados na lista? Tem o objetivo de figurar em alguma delas um dia? Compartilhe conosco e continue tentando. A próxima logline de destaque pode ser a do seu roteiro! #BlackList #roteiro #mercadoaudiovisual #Hollywood

  • ENTREVISTA: Como viver de cinema nos EUA?

    Natural da cidade de Porto Alegre (RS), o cineasta Eduardo Ayres Soares, que hoje vive em Los Angeles, nos conta em detalhes a sua trajetória no audiovisual em terras norte-americanas Viver de audiovisual é complicado, ainda mais em um país como o Brasil. Por isso mesmo muitas pessoas sonham em tentar carreira nos EUA, a terra de Hollywood e milhares de oportunidades para quem vai atrás da jornada cinematográfica. Mas como fazer esse trajeto? Existe jeito fácil de viver de audiovisual nos EUA? Que tipo de oportunidades aparecem para quem tenta a sorte em terras norte-americanas? Vamos entender melhor com quem já passou por tudo isso e hoje vive esse sonho. Nós batemos um papo muito instrutivo com Eduardo Ayres Soares, diretor de cinema que saiu de Porto Alegre e hoje coleciona experiência em Los Angeles, se dividindo em diferentes funções para tirar todas as suas ideias do papel. Quer saber o que Eduardo fez para chegar onde chegou e os projetos que ele vem desenvolvendo nos EUA? Acompanhe a nossa entrevista exclusiva! WR51: De onde você vem? EA: Nasci em Porto Alegre em 1989. Fui criado pelo meu pai dos 7 aos 16 anos, até quando revelei a minha orientação sexual pra minha família e então me mudei para o bairro partenon para morar com a minha mãe e irmão mais novo. É importante essa informação, pois a minha identidade como LGBT tem sido um tema recorrente nos meus trabalhos e hoje me considero um queer director. WR51: Como nasceu o seu interesse em fazer cinema/audiovisual? EA: Sempre tive um interesse por filmes e contação de história. Na minha juventude eu tive um grupo de RPG no qual eu era mestre e frequentemente eu escrevia as histórias das sagas. Jogamos por anos e são tantos enredos que escrevi, que perdi a conta faz muitos anos. Assim nasceu o meu primeiro contato com contação de histórias, o chamado storytelling. WR51: Qual sua formação e como foi o começo da sua trajetória no audiovisual? EA: Meu interesse por cinema se intensificou quando recebi uma bolsa de estudos pelo PROUNI para estudar Artes Visuais na ULBRA. Na época, pensei que se tratava de ensino de audiovisual, no entanto, se tratava de educação artística. Eu já trabalhava como designer gráfico para um pequena empresa, e posteriormente para o Jornal O Sul da Rede Pampa. Nessa época comecei a dar aulas de artes em escolas para o ensino médio e fundamental. Eu sei o que você deve estar pensando, isso não tem nada a ver com cinema. Entretanto, eu acredito que o design gráfico, a arte, e o ato de ensinar foram fundamentais na minha formação. O design gráfico me permitiu desenvolver um senso estético, uso da teoria das cores, a arte da imagética, composição, etc. As artes visuais me ensinaram a analisar imagens, questionar ícones, e a cultura como um artefato. O Ensino me mostrou como me expressar de uma maneira eficaz. WR51: Sair do Brasil para perseguir o sonho de se tornar realizador audiovisual aí fora era um objetivo que existia desde sempre? Como foi o planejamento para essa tomada de decisão? EA: Eu sabia que queria ir estudar nos EUA desde que eu tinha 18 anos, mas só consegui ir quando tinha 24 anos. Comecei a aprender inglês autodidata desde cedo, fiz amizades com vários americanos pela internet. Eu sempre achei que algo iria acontecer, uma oportunidade iria surgir, então eu sempre tentei estar preparado para o que fosse vir. Quando soube do Ciência sem Fronteiras, todo mundo me disse que teria muita concorrência. A maioria das pessoas que conhecia não iria se aplicar porque achavam que só os mais fodas conseguiriam a bolsa. Na minha cabeça na época, eu não estava nem aí, eu só queria tentar, para que eu um futuro distante não ficasse decepcionado por nunca ter tentado. Gastei dinheiro com o TOEFL, que foi caríssimo, mas fiz a prova mesmo assim. Tem momentos na vida que o importante é tentar, não perder oportunidades por falta de auto-estima. Eu passei 6 anos visualizando os meus estudos nos EUA até que isso ocorreu. Tem que se manter a visão nos objetivos e trabalhar em metas menores que ao serem concretizadas te levam mais perto do seu grande propósito. Quando cheguei nos EUA, eu estava estudando no Allegheny College por dois semestres. Mas eu queria ir para uma das melhores universidades do país. Mandei email pra varios professores nas melhores universidades americanas pedindo por um direcionamento do que fazer no meu verão nos EUA. Um dos professores me escreveu de volta e me ofereceu uma vaga na aula dele. Durante o verão de 2013, eu participei do “Sight and Sound: Filmmaking” na NYU Tisch. Aprendi mais naquela cadeira sobre produção cinematográfica que em todo o resto dos meus estudos até aquele momento. Nesse ano participei de 25 curta-metragens nos EUA. WR51: Quais foram as maiores dificuldades e desafios que você percebeu no mercado audiovisual brasileiro? EA: Voltar para o Brasil foi uma das etapas mais difíceis que já enfrentei. Ninguém aqui sabe o que é NYU Tisch. Ninguém se importa se você tem educação em cinema. Conseguir um emprego no audiovisual sem conhecer ninguém é difícil. Os empregos acontecem por indicação, e aqui nos EUA é a mesma coisa. Em um dos eventos/palestras que eu participei no Brasil assim que cheguei dos EUA conheci uma pessoa que, no futuro, me ajudou a entrar para uma produtora como editor estagiário. Tanto nos EUA como no Brasil, uma das chaves para o sucesso são as conexões, quem você conhece. É uma mistura de determinação, conexões e talento. Quando entrei na produtora no Brasil, comecei como estagiário. Passei para editor, e no final tive o grande privilégio de ter dirigido dois episódios da série de TV que eles estavam produzindo. Esse é um dos momentos que acredito se aplica a regra de “estar preparado”. Eu realmente não acredito que eu era o mais qualificado para fazer a direção, mas eu certamente estava no local certo e na hora certa, estava preparado, eu sabia o que estava fazendo e o meu chefe e colegas decidiram me dar essa oportunidade, o que eu sou muito grato. Novamente: estar preparado e ter conexões são muito importantes e é claro, confiar em si mesmo. Ninguém coloca poder nas mãos de pessoas inseguras. WR51: Como foi essa transição para os EUA? Qual foi o seu caminho a partir daí? EA: Eu já estava buscando um mestrado nos EUA há muito tempo. Eu sabia que havia muito mais oportunidades fora do Brasil para mim. Consegui uma bolsa de estudos pela Universidade de Utah, com tudo pago, e ainda recebendo um salário para ensinar na instituição. Fui aceito em várias outras instituições, incluindo USC, mas somente essa me deu bolsa de estudos completa. Fui morar em Salt Lake City em 2016, cidade vizinha de Park City onde acontece o Sundance Film Festival todos os anos. Se mudar para uma nova cidade é sempre um recomeço. WR51: Como funcionou essa inserção em um novo mercado audiovisual? EA: Chegando em Utah, ninguém me conhecia. Comecei fazendo pequenas coisas no set de filmagens, ajudando amigos, me reunindo com eles e criando projetos juntos. Com o passar do tempo você começa a chamar atenção quando as pessoas percebem que você é competente, está disponível, cumpre aquilo que promete, e que é fácil de trabalhar. Sempre trabalhando muito nos meus próprios projetos e pedindo feedback até o ponto de ser chato. Eu estava muito determinado a aprender e a ser o melhor nesse área. WR51: Que tipo de projetos vem aparecendo para você nos EUA? EA: Nesse meu tempo aqui nos EUA tenho feito direção de fotografia para vários curtas, incluindo comerciais, ficção e curta experimental. Fui chefe de elétrica em um comercial chinês, e em um longa-metragem ano passado. Tenho feito bastante edição ultimamente e correção de cor. Tenho trabalho com festivais de cinema, sou o diretor do Slamdance TV, e fui Coordenador Técnico do AFI Fest. A maioria desses trabalhos vem de indicação, pessoas que conhecem o meu trabalho e me indicam. Essas pessoas percebem o meu esforço e perfeccionismo e começam a me indicar para outras pessoas. WR51: E os seus projetos como diretor? EA: Desde que cheguei nos EUA decidi que iria me focar em direção. Tenho dirigido quase dois curtas por ano. Um dos meus maiores trabalhos foi Chasing the Dragon, um curta-metragem de suspense sobre um detetive transgênero investigando um caso de overdose em uma cidade pequena e conservadora em Utah. Recebemos diversos prêmios: melhor atriz, melhor direção, melhor cinematografia. Estivemos em vários festivais, o que abriu várias portas para mim. Eu percebi que a visão que os outros têm de você no audiovisual é muito importante. Se os seus contatos te veem como um editor, eles sempre vão te indicar para trabalhos de edição. Por isso Chasing the Dragon é tão importante na minha carreira, pois esse foi o trabalho que fez as pessoas a minha volta me verem como diretor, e editor ou diretor de fotografia em segundo. WR51: Quais são os seus projetos atuais? EA: Esse ano terminei um curta experimental que é a joia do meu coração. Não enviei para festivais de cinema e provavelmente não vai ganhar vários prêmios, mas esse curta eu fiz para mim. Quando olho pra ele, eu vejo como as minhas habilidades melhoraram e o diretor que eu me tornei. Agora vivo em Los Angeles, me mudei para cá em setembro. Terminei o primeiro roteiro de uma série de TV que estou escrevendo baseado no meu curta-metragem Chasing the Dragon. Estou trabalhando com um roteirista no meu próximo curta, um horror psicológico found-footage que espero gravar ano que vem. WR51: Que dicas você poderia dar para quem também quer morar no exterior? EA: Estudar nos EUA não foi fácil, deixar todos os seus amigos e família para trás. Os primeiros 6 meses são difíceis e se prepare psicologicamente. Falar em inglês de vez em quando é bem diferente de falar 24 horas por dia, chega um ponto onde o seu cérebro frita. A comida é diferente e não é boa comida na maioria das vezes, a comida brasileira é um manjar dos Deuses comparado com a americana. A maneira como eles se relacionam é muito diferente também, e eu só percebi como nós brasileiros somos quando cheguei aqui. Faz parte do processo e é importante entender essa dinâmica para ir morar no exterior. Outra dica é se dedicar e ter foco nos seus objetivos, não se distraia com outras coisas. É fácil jogar tempo fora quando tudo no outro país nos fascina, quando tudo que você viu nos filmes desde pequeno vai estar na sua frente para você usar e viver aquela experiência. WR51: E que dicas você poderia dar para quem também quer seguir o mesmo caminho que você? EA: Entre as várias dicas eu diria: saber manter o foco nos seus objetivos, trabalhar e aprender a arte do cinema e a ser determinado e perfeccionista. Entretanto, as duas melhores dicas que eu poderia dar são: produza filmes e crie conexões com pessoas. Só se aprende a ser um diretor dirigindo, a ser um editor editando. Se ninguém quer te pagar para isso, faça por conta própria. Crie conteúdo, escreva os seus roteiros, se junte com seus amigos e coloque na tela as suas ideias e percepção de mundo. Dificilmente alguém vai lhe dar a oportunidade de ser um diretor se você nunca dirigiu um curta. Trabalhe em um roteiro que você acha que tem potencial, peça a opinião de pessoas experientes em roteiro para te dar feedback. Reúna um grupo de pessoas que compartilham da mesma paixão que você tem. Em novembro de 2019 tive a oportunidade de assistir a um painel com os produtores executivos das maiores empresas de cinema dos EUA, incluindo a Netflix. Uma das falas durante o evento ficou comigo. Eles diziam que quando uma pessoa em um grupo criativo ascende na carreira, todas as outras ascendem também. Disseram que temos que ajudar uns aos outros, e que eles mesmos estão sempre disponíveis a ajudar diretores que estão começando. Eu mesmo já ajudei outros a conseguir emprego ou até mesmo a aplicar em Universidades aqui nos EUA, sempre dou feedback em filmes e ajudo como posso. Acredito que ser um “mentor” faz parte do nosso ramo. Seja humilde para aprender com os outros, bondoso para ajudar aqueles que precisam e a ensinar aqueles que sabem menos sobre produção cinematográfica. Tem muito ego no nosso meio, e se você conseguir se despir das vestes do “cineasta”, você só tem a ganhar. #entrevista #cinema #EduardoAyresSoares #viverdecinema #Hollywood

  • Dicas de pitching para roteiristas e autores

    Para fazer um bom pitching do seu trabalho autoral, quais medidas você deve tomar? Como fazer um bom pitching de série sem contar toda a narrativa? Apresentar sua ideia de longa-metragem ou série para possíveis investidores é um grande passo na carreira de todo roteirista ou autor (quem escreve e também dirige o projeto). Porém, muitas vezes, o nervosismo ou despreparo deixa tudo mais tenso e complicado. Nesse cenário, é fácil se atentar aos detalhes menos importantes ou utilizar o tempo do pitching (ou pitch) de modo inadequado, o que pode prejudicar a carreira do projeto. Por exemplo, muitos roteiristas acabam deixando de lado a importância dos aspectos de produção, abordando exclusivamente a narrativa. Ou então, o autor se lança num mar de referências e perde a conexão com o público, que já não acompanha mais aquele emaranhado de vídeos e imagens. Não quer passar por essa situação na próxima vez que for fazer um pitching de seus projetos? Quer conhecer algumas dicas para se dar bem apresentando seus longas e séries? Preparamos algumas dicas que vão ajudar a melhorar seu pitching e apresentar sua ideia da melhor forma. A abordagem básica presente nos melhores pitchings Quando você apresenta um projeto de série ou longa, é bom ter bem claro para si algumas questões sobre ele. No podcast de roteiro Scriptnotes, assinado pelos roteiristas John August ("Peixe Grande") e Craig Mazin ("Se Beber, Não Case! Parte II"), são discutidos vários pontos essenciais sobre pitchings. O primeiro é a abordagem que o autor deve ter em relação a como vai vender sua ideia. No episódio 55, John August afirma que sempre descreve um argumento como se estivesse contando ao seu melhor amigo sobre quais elementos ele teria que prestar atenção ao assistir ao filme. Nisso, seria como se você quisesse convencê-lo a assistir o filme, apresentando um breve resumo de todos os elementos narrativos. Ele dá o exemplo de como aborda seus projetos no pitching: 'Este é o mundo, esses são os personagens; essas são as grandes coisas que acontecem ao longo do caminho.' Não precisa ser exatamente em sequência. A lógica nem precisa necessariamente ser a mesma que você usará em seu roteiro final. É apenas trazer a eles a sensação de 'é assim que o filme é'. Se eles estivessem assistindo ao trailer, essa é a experiência que eles receberiam. Ou seja, é muito mais envolvente partir de elementos que convidem as pessoas para o universo narrativo do que contar a história inteira, por exemplo. É interessante, também, iniciar com uma justificativa pessoal ou artística para a existência do projeto. Em poucos minutos, o roteirista ou autor pode trazer um contexto pessoal que cative a curiosidade dos investidores ou plateia. Sobre isso, Craig Mazin (criador da série Chernobyl) exemplifica: Gosto de apresentar as coisas dizendo: "É por isso que sempre quis escrever este filme." Ou: "É nisso que estou interessado." Quero colocar a história que estou contando o contexto de uma paixão pessoal, porque eu acho que isso imediatamente dissipa o [...] cinismo, porque quando alguém faz um pitch, ele está lá para vender algo para você [...]. Todo mundo sabe disso e fica um pouco cínico. August complementa: "Você precisa vendê-los a ideia de que 'este é o filme que eu quero fazer', 'este é o programa de TV que eu quero criar', 'esta é a visão que tenho para isso. Portanto, não se trata de 'o programa pelo qual quero que você me dê dinheiro'". Ou seja: mesmo que o pitching seja uma parte do atual modelo de negócios do setor audiovisual, nada impede que seja um momento onde você teste seu talento com storytelling. Além de tudo, essa abordagem já faz o papel de demonstrar o quão importante é a existência desse projeto - e que você o faça. Independente se você for um roteirista iniciante ou um autor sem créditos de direção, expôr uma boa justificativa pessoal vai aumentar muito as suas chances de fazer um bom pitching. Agora que você entende o básico de um pitching de sucesso, confira mais dicas que vão enriquecer sua apresentação. Dicas para um bom pitching audiovisual 1. Seja sintético, mas mencione os aspectos de produção É imprescindível que o roteirista ou autor conheça todos os detalhes de seu projeto, mas também é importante que se tenha noção de síntese. Mais do que respeitar o tempo de apresentação (muito comum em concursos de pitching ou laboratórios), é preciso saber trabalhar a atenção da plateia. É crucial, então, que o autor do projeto trabalhe em diferentes versões, completas e reduzidas, do pitching. Elas podem conter 10, 5 e 2 minutos, por exemplo. Isso ajuda a não se alongar muito na sinopse e fatos do filme, mas sim na força dramática por trás deles. Esse ponto é ainda mais importante quando se trata de uma série de TV ou filme multiplot, onde temos vários protagonistas e tramas paralelas. Sobre isso, a roteirista Bia Crespo (com quem fizemos uma super entrevista que está para sair em breve) tem a dica perfeita. Ela aborda, em seus pitchings, tudo o que "gostaria de saber num projeto", mas tendo em mente que isso envolve especialmente focar na trama principal e no contexto de produção. É importante, como ela traz, focar em todos os aspectos do projeto, mas de modo sintético. Isso também vai evitar que você passe do tempo ou perca a atenção da plateia. Você pode refinar seu pitching a ponto de conseguir transmitir um arco inteiro de personagem em apenas alguns minutos - o que dá tempo para focar em aspectos como relevância e público, outros pontos que Bia traz como fundamentais. Traga alguma noção de público-alvo, orçamento ou mesmo colocação na grade do canal. Bia afirma que isso traz mais embasamento para o projeto, melhorando as chances de venda. Portanto, a dica é: aposte na linha dramática ou personagem principal, partindo daí para explicar os fatos dramáticos mais relevantes para a trama e seus aspectos de produção. 2. O segredo é praticar e reescrever Um medo que acomete roteiristas e autores ao se apresentar é o de enrijecer o texto após várias apresentações. Mas praticar o pitching várias vezes é tão importante quanto reescrevê-lo, já que o processo de apresentação é muito semelhante ao da escrita e criação em geral. John August comenta que sente-se "nervoso de não recapturar o mesmo entusiasmo" ao longo da sua maratona de pitchings. Isso é comum de acontecer quando o projeto passa por várias rodadas de negócios ou apresentações em canais de TV, por exemplo. Para ajudar nessa questão, August conta que desenvolveu um pequeno "documento de pitching" para si, que é mais ou menos um pequeno resumo de no máximo duas páginas com os pontos mais importantes da apresentação. "Voltei e reescrevi o documento várias vezes", comenta no podcast, "porque descobri que o processo de reescrevê-lo meio que reenergizava no meu cérebro de uma maneira que eu poderia realizar o pitching novamente e ele ter uma nova vida e novos detalhes. Porque, se você não está interessado no pitch, eles não vão se interessar pelo pitch. Então, você precisa se surpreender com as novidades que está adicionando". Bia Crespo também traz uma dica interessante para quem quer não só lembrar dos detalhes mas também aumentar suas chances de negócios: apostar na one page, uma página entregue aos investidores que contém as informações básicas do projeto e do autor. Ela desenvolveu um formato que possui uma pequena sinopse do projeto, arte conceitual, informações básicas de gênero e episódios, minibiografia do autor e outros detalhes importantes. Como comenta, essa é uma ótima opção para quem não quer ou não pode imprimir uma enorme bíblia de série a cada pitching ou reunião de negócios que faz. Além de apostar nesses apoios, lembre-se de ser o primeiro espectador da sua apresentação. Quais os elementos dramáticos que mais lhe atraem a atenção? Onde você precisa suprimir informações ou ilustrar com referências? 3. Mantenha em mente a justificativa principal Se você está apresentando seu projeto, é porque acredita no potencial artístico, social ou de entretenimento dele. Isso deve transparecer durante todo o pitching, tanto na sua fala como na apresentação de apoio. Nesse cenário, Mazin atenta para a questão principal: "acima de tudo [...], certifique-se de que eles saibam sua resposta a esta pergunta: Por que esse filme deveria existir? Por que essa série deveria existir? Não basta apresentar algo com competência e ser interessante de certa forma. Precisa querer ser. Então, descubra como transmitir essa questão". Uma justificativa pessoal pode ajudar muito no pitching, assim como a relevância social, econômica ou política do projeto. Não tenha medo de "inserir" conceitualmente seu filme no mercado, pois isso mostra que você fez seu dever de casa e está por dentro das necessidades da indústria. Como melhorar seu pitching de séries? Dicas para um bom pitching servem para vários formatos, mas existem algumas particularidades em relação a apresentação de projetos seriados. A dica do poder de síntese é a primeira que devemos relembrar aqui. Imagine contar a história de todas as oito temporadas e dos quarenta personagens que você criou? Não funciona. Os roteiristas do Scriptnotes, no episódio 328, apontam a diferença que percebem entre pitchings de longas e séries de modo muito sintético: "na televisão", comenta Craig Mazin, "você está vendendo uma experiência. E no longa-metragem, você está vendendo um produto". Essa diferença de abordagem é muito interessante de se ter em mente, já que é resultado do recurso repetitivo e conceitualmente infinito que a narrativa seriada possui. Ou seja, sua série precisa funcionar narrativamente por muitas temporadas - e isso precisa ficar muito claro já no pitching. Além desses, quais são os outros aspectos importantes de saber? 1. Personagens: falar somente o necessário Todo mundo já passou pela experiência de assistir a uma apresentação nada inspiradora. Mesmo que o assunto seja interessante, a forma como ele é apresentado pode fazer a diferença entre se conectar ou não. Num pitching de série para TV ou streaming, é extremamente necessário focar extensivamente na trama principal, de acordo com Bia Crespo. A roteirista dá a dica de deixar os outros modelos actanciais bem claros, mas não contar literalmente toda a narrativa. "Pitching é sempre trama A", diz. Para ela, a história reduzida do piloto, a explicação do rumo narrativo principal e "uma frase do que vai acontecer com cada um dos personagens coadjuvantes" são os aspectos ideais para se abordar num pitching de série. É importante delinear a presença dos outros personagens de apoio, mas sempre focando no motivo deles existirem ao invés de sua trajetória em si. Por exemplo, quem é o adversário do protagonista e por quê? Quem será uma peça-chave para a história acontecer e como? Isso vai impedir que você se demore muito no plot, falando "e daí… e daí..." sem parar. O próprio Craig Mazin, quando realizou os pitchings da minissérie da HBO Chernobyl, utilizou essa técnica. Em termos de personagens, ele conta que se limitou a mencionar "os três que considerava os mais importantes. E então um quarto, que era importante apenas para entendermos o que estava acontecendo com os outros três". Portanto, no quesito explicar as tramas e trajetórias de personagens, menos é mais. 2. Mostre que tem fôlego narrativo para as temporadas Essa dica é bem direta ao ponto: mostre ao canal ou aos investidores que sua série tem fôlego narrativo para durar várias temporadas. Contudo, como o pitching normalmente é uma apresentação rápida, o melhor é passar rapidamente por todas as questões temáticas. Sobre isso, John August comenta que o pitching para TV "é esse tipo estranho de forma intermediária em que você está entrando e eles conhecem a área temática geral em que você está apresentando, mas é preciso orientá-los durante toda a ideia. Portanto, um pitching pode levar 15 minutos ou 30 minutos. Mas tem que ser um pacote realmente completo, não apenas o que será o piloto". Ou seja: não se concentre apenas no piloto e nos personagens. Mostre ao público que sua série pode e precisa ser produzida por muito tempo. 3. Conheça o método para pitching de séries de John August No mesmo episódio de Scriptnotes (328), o roteirista John August descreve como ele prepara seus pitchings para TV de modo bem básico. Primeiro, ele apresenta rapidamente os temas gerais da série e os conceitos desses temas. Em seguida, responde à perguntas muito importantes: por que fazer esse programa de TV em 2019 e não lá em 2005? Qual é o aspecto do mundo contemporâneo que torna esse programa especialmente atraente e necessário? Isso vai trazer um embasamento fundamental para seu trabalho como roteirista e autor, já que é muito positivo quando os temas que tratamos estão em diálogo com o contexto atual de alguma forma. August comenta que é só depois desse contexto que ele entra na narrativa da série em si. Por que assim, [...] você está dando a eles a sensação do tipo de situação que acontecerá na série. Você está começando a apresentar os personagens. Mas, realmente [...], você está lançando uma visão - uma visão pessoal e depois uma espécie de visão global. E só então você começa a tratar dos específicos, dos personagens, como estamos vendo os personagens fazerem o que eles fazem. Conta o que acontece no piloto e outras coisas intrigantes que estão acontecendo [na narrativa]. 'Esses são tópicos em aberto que nos levarão a futuros episódios e, idealmente, no mundo da fantasia na segunda temporada'. Esse método é interessante para pensar a lógica que melhor se aplica ao seu projeto seriado. Os principais problemas dos pitchings audiovisuais De modo prático, formulamos uma lista de detalhes que acabam atrapalhando o rendimento dos pitchings de séries e filmes por aí. São eles: Abordagem narrativa em excesso, com exagero de detalhes e personagens; Ruído de muitas referências visuais e em vídeo (esse é um artifício que mais atrapalha do que ajuda, pois faz com que as pessoas se desconectem da fala e, muitas vezes, fiquem confusas com o conceito); Falta de justificativas pessoais e gerais para a existência do projeto; Falta de noções de venda (orçamento, público, relevância no mercado); Passar do tempo do pitching, quando existe. Percebeu algo que você anda fazendo? Pode ser uma boa ideia treinar seu pitching sozinho, através de vídeo ou com alguém de confiança que lhe forneça feedback. O pitching, além de concretizar uma venda, deve ser sempre uma experiência que melhora nosso trabalho como roteirista, como fala Bia Crespo. Em determinadas situações, como em laboratórios de projetos, "O foco deveria ser ajudar aquele roteirista a ser o melhor possível". Portanto, utilize essa oportunidade para melhorar tanto a sua visão de mercado quanto de si mesmo. Assim como muitas coisas na vida, um pitching de sucesso vai vir da prática e do interesse em ser um bom profissional. #pitching #roteiro #dicas #Scriptnotes #autores #apresentação

Writer's Room 51 é um Núcleo Criativo de projetos audiovisuais autorais.

Newsroom 51 é um portal afiliado de artigos sobre roteiro, cinema, TV e streaming.

  • Branco Facebook Ícone
  • Branco Twitter Ícone
  • Branca Ícone Instagram
  • Branca Ícone LinkedIn
bottom of page