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6 dicas práticas para escrever uma dramédia

Aprenda a construir uma dramédia com reflexões sobre os gêneros e dicas incríveis da roteirista Phoebe Waller-Bridge

Fleabag
"Fleabag". Imagem: reprodução

O que “comédia dramática” realmente significa? Quais os principais pontos para se manter em mente quando concebemos histórias com essa abordagem? Como trazer seriedade e comicidade a uma mesma história?

Em geral, são narrativas que fundem comédia e drama para nos dar uma experiência emocional mais rica do que apenas um gênero é capaz de fazer sozinho. Qualquer drama comum pode nos fazer chorar. Qualquer comédia sagaz pode fazer nosso abdômen doer de tanto rir.


Mas uma comédia dramática, ou dramédia, pode fazer as duas coisas. E deve fazer as duas coisas, se quiser ser rotulada como tal.


Porém, não é tão simples assim. Na verdade, é possivelmente uma das combinações mais complexas de se mesclar. Por isso, trazemos 6 dicas práticas traduzidas e adaptadas do Script Reader Pro e da roteirista, atriz e produtora Phoebe Waller-Bridge, que assina séries de sucesso como "Fleabag" (2016), "Killing Eve" (2018) e mais.


Acompanhe!


O que torna as dramédias tão poderosas?


A força de um drama é algo que está enraizado na experiência humana. E, hoje em dia, o público está mais sofisticado e exige arcos emocionais mais convincentes.


Uma pessoa não sente apenas uma emoção durante toda a vida. Estamos em um estado de fluxo constante. Mesmo em um único dia, um indivíduo pode passar por uma miríade de sentimentos e emoções.


Talvez seja por essas razões, as dramédias realmente ressoam com espectadores. Isso é o que os torna altamente relacionáveis e comercializáveis - há algo para todo mundo. E altamente identificável e comercializável é uma coisa ótima quando você está escrevendo qualquer roteiro.


No geral, uma comédia dramática é uma expressão dinâmica e complicada de nossos egos dinâmicos e complicados, colocada no papel e vista na tela. É justamente por essas razões que torna a criação particularmente desafiadora, mas também imensamente gratificante (e comercializável).


E, agora, vamos às 6 dicas simples para escrever uma dramédia de respeito!


1. Concentre-se nas personagens e suas falhas

Fleabag
Fleabag. Imagem: Amazon

O que movimenta (e, idealmente, origina) uma narrativa é a personagem. Ou melhor, é o conjunto de oposições entre a falha principal, o objetivo e a necessidade de cada personagem. Tudo isso orquestrado a serviço de um ou mais temas.


Na dramédia, isso não é diferente. Quem são as personagens da sua história? Quais falhas, dificuldades e reviravoltas elas precisarão passar para completar seu arco?


Lembre-se da frase de Angela Carter: "A comédia é uma tragédia que acontece com outras pessoas". É seu trabalho desenvolver quem são essas pessoas e como elas lidam com dramas e momentos inusitados.


Isso pode trazer ideias de pequenos detalhes de caráter, manias, hábitos ou crenças possivelmente engraçadas e também trágicas que aparecerão nas suas personagens.


Precisa de ajuda com isso? Comece lendo essa entrevista e depois essa!


2. Pese a narrativa a favor do drama


Aqui está a dificuldade: uma dramédia tem que servir a dois mestres e tem que realizar funções de conflito. Deve ser alegre quando necessário e repleto de drama quando necessário. É por essa mistura de gêneros que as dramédias são tão frequentemente descritas como "sinceras", "alegres" ou "charmosas".


Mas misturar o drama em uma história com seu parceiro de comédia é onde está o desafio. E não há uma resposta clara ou fórmula padrão da indústria para isso. Mas há uma regra básica da dramaturgia que você pode aplicar: incline o tom do roteiro em favor do drama.


Isso significa que pode ser útil abordar uma comédia dramática antes de mais nada como um drama. Mas são as reações às vezes humorísticas dos personagens ao conflito que o diferenciam de um drama direto.

Big Little Lies
Big Little Lies. Imagem: reprodução

Em outras palavras, o equilíbrio tonal deve ser dramático, com momentos de hilaridade espalhados pela narrativa.


Um exemplo: na série "Big Little Lies" (2017), a trama principal gira em torno de um marido assassino e abusivo. Porém, a narrativa mistura muitos momentos levemente engraçados, como as conversas entre as protagonistas, opiniões sinceras demais ou trocas sarcásticas entre Ed e o ex-marido de sua esposa, Nathan.


Usando a comédia e o drama a seu favor


Roteirista de destaque dos últimos anos, Phoebe Waller-Bridge sabe muito bem misturar momentos de drama real com um humor peculiar e original.


“Tento desarmar o público o máximo que posso com a comédia e, em seguida, dou aquele soco no estômago com um drama quando menos se espera.” - Phoebe Waller-Bridge

Alguns dos momentos mais comoventes em Fleabag vêm logo após uma piada. Justamente quando você pensa que é tudo risos e sorrisos, Waller-Bridge quebra o momento com uma linha ou sequência dramática.


Tudo remonta à crença da autora de que as pessoas são vulneráveis quando riem, o que as deixa expostas por momentos de profundidade e drama. Comédia e drama podem ser categorias de gênero, mas são verdadeiras ferramentas que roteiristas devem ter em seu arsenal.


3. Aposte no humor sutil

Fleabag
Fleabag. Imagem: reprodução

A comédia dramática é geralmente da variedade mais sutil. Não é aquela comédia escrachada encontrada em filmes e séries como "Se Beber, Não Case", "Se Eu Fosse Você" ou "Parks & Recreation".


Isso significa que aquela cena hilária envolvendo um macaco bêbado em uma festa que está atualmente em seu roteiro dramático pode ser removida sem medo. Guarde para outro roteiro com um tom cômico mais amplo.


Em vez disso, certifique-se de que o humor em seu roteiro de drama é suficientemente discreto. Portanto, incline-se mais para a sagacidade verbal e o humor enraizado no realismo, e menos para grandes momentos de comédia de erros e piadas sobre arroto.


É por isso que, quando um momento abertamente exagerado da comédia física aparece em um drama, ele pode parecer fora do lugar e desnecessário.


Deixe sua empolgação liderar o caminho


Aqui, é importante lembrar-se novamente das falhas das suas personagens, que entrarão sutilmente em conflito e darão luz a situações cômicas.


Por isso, é importante você realmente gostar da história que está contando e deixar se inspirar pelas suas vontades: o que você realmente quer ver na tela? Que tipo de situação faz você rir?


“A primeira cena que escrevi para a segunda temporada [de Fleabag] é a cena no banheiro onde Fleabag está lá com o nariz sangrando, vira-se para a câmera e diz: 'Esta é uma história de amor'. Os produtores adoraram e disseram: 'O que acontece a seguir?' E eu disse: 'Não faço ideia!' Fiquei entusiasmada com isso e, a partir daí, trabalhei para descobrir quem ela odiaria o suficiente para dar um soco". - Phoebe Waller Bridge

Nem sempre sabemos para onde nossas histórias estão indo. Waller-Bridge argumentaria que isso é uma coisa boa. Se sua história surpreende, se tem diálogos sérios, mas também irônicos e contraditórios, provavelmente significa que algo está funcionando. Siga esse instinto e deixe suas personagens mostrarem o caminho.


Se você está animado com a perspectiva de onde algo pode levar, é provável que seu público também fique. Isso funciona com os pequenos momentos engraçados, que tornam-se especiais por não serem muito frequentes e acabam atraindo ainda mais a atenção do público.


4. Aumente o drama, diminua a comédia

Sideways
Sideways. Imagem: iMDB

Ao passo que você constrói a sua ideia, é interessante perceber que em qualquer obra que mistura drama e comédia, o drama aumenta proporcionalmente com o nível de tensão da história. A comédia, contudo, faz o contrário.


Mas o que isso significa?


Simplesmente que seu roteiro deve se tornar cada vez mais como um drama, ao mesmo tempo que se torna menos como uma comédia. Na maioria das vezes, no momento em que um drama (um filme, pelo menos) atinge seu ato final, é mais ou menos transformado em um drama puro.


As piadas praticamente desaparecem. Os divertidos mal-entendidos praticamente também somem. O que nos resta é o coração do filme - o drama que traz as lágrimas ao invés do riso - e dá uma comédia dramática com um tom especial único. Aí, o tema do filme será seu aliado para completar o arco das personagens.


Alguns exemplos de histórias que demonstram isso são "Sideways" (2004), "A Primeira Noite de um Homem" (1967) e a própria Fleabag.


5. Explore sua própria vida


Outra chave importante para aprender a escrever um roteiro de dramédia é explorar sua própria vida. Isso não deve ser confundido com o velho ditado "escreva o que você sabe".


Alguns roteiristas aderem a isso com grande esmero. Outros argumentam que "só porque nunca estive em outro planeta, não significa que não posso escrever sobre isso". E nenhum estaria errado.


Mas existe outra noção melhor ainda: "escreva o que você sente".


Esse modo de pensar é absolutamente essencial na dramédia, já que o dia de todo mundo é um misto de bons e maus momentos. Além disso, sentimentos de diferentes intensidades e que surgem por motivos diferentes aumentam a sensação de identificação do público, assim como trazem à tona situações inusitadas e originais.


Entenda que nossa própria vida - todos os dias - tem uma estrutura dividida em atos: manhã, tarde e noite. E muita “dramédia” acontece nos espaços intermediários.

Fleabag
Fleabag. Imagem: IGN

Qualquer roteirista com a ambição de escrever um roteiro de dramédia precisa sentir os grandes momentos da vida e suas minúcias, entendendo que é uma “personagem” em sua própria vida, agindo e fazendo escolhas dentro de seu próprio "arco".


Agora elimine todas as partes chatas, plante esses sentimentos e experiências nas personagens, construa bem essas personagens dentro de um enredo bem estruturado e você estará no caminho certo para criar uma ótima comédia dramática.


Escolha ser vulnerável


“Às vezes você sente que é mais corajoso dizer algo ultrajante, mas nem sempre é. Às vezes é mais corajoso dizer a coisa vulnerável. ” - Phoebe Waller-Bridge

Cada episódio de Fleabag apresenta pelo menos uma linha que é hilária, dolorosa ou de tirar o fôlego em sua honestidade. Exemplos? “Amor não é algo que pessoas fracas fazem”; “As pessoas são tudo o que temos”; “Às vezes me preocupo se eu seria menos feminista se tivesse seios maiores”, entre outras frases marcantes.


Fleabag é notável em sua vulnerabilidade. E é porque Waller-Bridge entende que, às vezes, dizer algo extremamente vulnerável é incrivelmente corajoso. É preciso coragem para escrever o que todos estamos pensando, mas não conseguimos dizer em voz alta.


Encontre isso em você e, em seguida, em suas personagens. Elabore maneiras diferentes que essas pessoas lidam com suas fraquezas e seus medos, escolhendo alguns momentos-chave para que elas sejam honestas. Afinal, o conflito no roteiro pode vir tanto da mentira quanto da verdade.


6. Experimente a Regra das Três

Fleabag
Fleabag. Imagem: reprodução

Essa dica é sobre construção e timing de cena, já que a dramédia requer um malabarismo de ritmo bem complexo.


“Eu sempre acho que deveria haver pelo menos três coisas acontecendo em uma cena ao mesmo tempo.” - Phoebe Waller-Bridge

Uma cena sobre uma jovem encontrando-se com um banqueiro não é muito interessante. Mas quando a jovem está atrasada, completamente despreparada e suando profusamente (fazendo com que ela acidentalmente mostre o sutiã ao banqueiro em questão, que, a propósito, teve um problema com assédio sexual recentemente), a cena se torna instantaneamente mais atraente.


“Eu sinto que quanto mais conflito você inflige em uma pessoa, mais real parece, porque caso contrário, é apenas uma conversa sobre um empréstimo bancário”, explica a roteirista.


Seus personagens devem ser pessoas reais com problemas reais. E com que frequência nós simplesmente lidamos com uma coisa de cada vez? A vida é muito mais complicada e suas cenas devem refletir isso.


Boa escrita!


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