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5 séries essenciais para quem ama ou quer estudar audiovisual, com Rafael Lessa

Roteirista de "Samantha!" (Netflix) conta um pouco da sua trajetória no audiovisual, fala sobre tudo aquilo que o inspira a criar e divide as 5 séries essenciais para roteiristas em formação


Rafael Lessa. - Imagem: Fábio Audi

Todo roteirista traz suas próprias referências consigo. Afinal, esta é uma área normalmente composta por pessoas apaixonadas pela arte. Com um mercado cada vez mais focado no desenvolvimento de séries, é preciso entender melhor quais produtos audiovisuais podem ajudar você a se tornar um roteirista melhor.


Inspirados por este importante tema, conversamos com Rafael Lessa, roteirista de projetos como “Samantha!” (Netflix) e “Lov3”, série a ser lançada pela Amazon Prime Video em breve. Para além do ofício como roteirista, Lessa atualmente estuda no programa de MBA da University of Southern California (USC).


Rafael Lessa conta um pouco da sua trajetória no audiovisual, fala sobre tudo aquilo que o inspira a criar e divide suas 5 séries favoritas!


Quem é Rafael Lessa?


Rafael Lessa. - Imagem: Fábio Audi

“Meus pais tinham muito orgulho quando eu escrevia, ainda na época da escola. Percebi que escrever era uma ferramenta para me aproximar dos outros”, revela Lessa, que se formou em Jornalismo antes de ingressar no mercado audiovisual. O roteirista comenta que foi em uma aula com o cineasta João Moreira Salles que ele entendeu melhor o norte da sua carreira.


“Ele [João Moreira Salles] foi bem receptivo e me aconselhou a estudar cinema nos EUA”, contextualiza. Rafael Lessa, carioca de 39 anos, é roteirista, diretor e produtor formado em Jornalismo pela PUC-Rio e Mestre em Direção e Roteiro pela Columbia University, em Nova York. Ele produz conteúdo diverso, de forma leve e divertida, com toque humorístico.


“É meio clichê, mas desde pequeno eu gostava de contar histórias. Eu era bem tímido quando criança e uma maneira de me comunicar com os outros era contando histórias porque assim eu não precisava ser ‘eu’ e sim uma pessoa contando uma história. Claro que na época eu não tinha noção disso, mas hoje em dia, olhando pra trás, eu percebo que era isso, era minha maneira de interagir com os outros. E eram histórias bem visuais, muito ‘descritas.’” - Rafael Lessa

Começou sua carreira como roteirista com o filme “Tá”, em 2008, de Felipe Sholl, que fala sobre dois amigos que estão descobrindo sua sexualidade e foi o vencedor do “Prêmio Teddy de Melhor Curta LGBTQ”, no Festival de Berlim. Escreveu o documentário “Francisco Brennand”, em 2012, que conta a história do artista plástico de 85 anos que mora e trabalha em sua oficina no Recife e foi premiado como "Melhor Filme”, na Mostra de São Paulo do mesmo ano.


Escreveu para programas de humor como “Vai que Cola” e “Tudo pela Audiência”, do canal Multishow; foi roteirista das duas temporadas da série “Samantha!”, da Netflix, que conta a história de uma ex-celebridade mirim e recentemente foi o roteirista-chefe e co-produtor executivo da série “Lov3”, que será lançada em breve pela Amazon Prime Video. Também chefiou a sala de roteiristas da série “As Aventuras de José e Durval”, que conta a história de Chitãozinho e Xororó, com a produtora O2 para o Globoplay.


Amante do cinema desde criança, Rafael tem paixão por contar histórias de pessoas que por alguma razão foram excluídas por algum círculo social.


“Eu gosto muito de personagens que são o ‘underdog’, pessoas marginalizadas por diversas razões. Seja a coisa mais direta de histórias LGBTQIA+ porque sou gay e naturalmente me identifico com esses personagens, mas também histórias de gente como Chitãozinho e Xororó que vieram de um pedaço completamente esquecido do Brasil e superaram milhões de problemas para virar os astros que viraram.” - Rafael Lessa

Além de sua carreira como roteirista, seu trabalho em curtas-metragem LGBTQIA+ como “The Yellow Tent”, que atuou como diretor, roteirista e produtor, foi exibido no festival de cinema Outfest e no Toronto Gay Film Fest. O curta “Jiboia”, em que foi diretor e roteirista, recebeu o prêmio Canal Brasil, assim como “Melhor Curta” no festival Lume, participou da competição no Festival de Cinema de Tiradentes e foi exibido também em Tel Aviv, Copenhagen, Guadalajara, entre outros.


“Love Snaps”, em que foi o produtor, fotógrafo, diretor, ator e roteirista, foi premiado como “Melhor Curta” no prêmio Felix no Festival do Rio, e também como “Melhor Roteiro” no Mix Festival. Em 2016, foi um dos 20 cineastas perfilados no livro “O Cinema que Ousa Dizer Seu Nome”, de Lufe Steffen, Editora Giostri.


Rafael agora está em Los Angeles, nos Estados Unidos, onde vai passar dois anos estudando no programa de MBA da University of Southern California (USC) com foco em entretenimento.


“Em 2020 a minha carreira nunca esteve tão bem, mas eu tinha muita vontade de voltar para os Estados Unidos para estudar. Tinha muito interesse em entender melhor o lado executivo do ofício”, responde.


5 séries essenciais para quem ama ou quer estudar audiovisual


Minha avó era praticamente a Odete Roitman! Eu comecei a me identificar nas novelas do Gilberto Braga. Tinha esse olhar de classe, sobretudo no Rio e eu sempre fui muito atento a isso”, explica Lessa, deixando bem claro que Gilberto Braga, falecido em outubro de 2021, sempre exerceu uma grande influência na sua vida. Por ter crescido na zona sul do Rio de Janeiro, Lessa via muitas relações entre as tramas das novelas do autor e as situações que testemunhava em seu entorno.


Outra importante referência é Pedro Almodóvar, algo que também vem da sua infância. “É uma referência gigante para mim até hoje. Eu fui crescendo e entendendo que era importante ter esse olhar para a minha família”, resume.


No Brasil, além de Gilberto Braga, Lessa também menciona Nelson Rodrigues, trazendo a literatura policial e narrativas que dialogam com o sensacionalismo e as bizarrices da vida como fonte de inspiração. Fora do ambiente ficcional, Lessa afirma que pessoas também o inspiram, destacando a atriz Gilda Nomace, com quem já trabalhou algumas vezes.


“Tudo o que envolve pessoas meio erradas, fora do padrão da sociedade, me fascina muito”, completa Lessa. Dentro e fora das salas de roteiro, Lessa busca sempre encarar o mundo através dos olhos de personagens “quebradas”, capazes de testar nossa empatia e ao mesmo tempo complexificar temas difíceis.


Por fim, Rafael Lessa divide conosco as 5 séries essenciais para quem ama ou quer estudar cinema:



Seinfeld (1989-1998)


Seinfeld. - Imagem: reprodução

“Seinfeld é sobre essas pessoas pouco ‘gostáveis’, pessoas que cometem muitos erros. Não só pelo humor em si, mas eu achava muito engraçado acompanhar aquelas pessoas histéricas com questões muito mínimas, idiossincráticas”, explica Lessa.


Em “Seinfeld”, acompanhamos o dia a dia de 4 amigos em Nova York lidando com problemas mínimos, sempre derivados dos seus próprios desvios de caráter. A série é protagonizada por Jerry Seinfeld, comediante stand up cheio de opiniões cômicas sobre as mais variadas futilidades da vida. Conhecida como “uma série sobre nada”, Seinfeld foi um dos maiores hits dos anos 1990 e certamente um dos sitcoms mais aclamados até hoje.


“É uma comédia clássica, multicâmera, gravada em estúdio, mas que consegue ser muito mais inteligente que muitas séries que vieram depois. Ela é uma aula de comédia, onde você vê personagens muito bem escritas, com várias dimensões.” - Rafael Lessa


The Comeback (2005-2014)


The Comeback. - Imagem: reprodução

The Comeback pra mim é uma obra de arte. É esse humor cringe, do constrangimento, que lembra um pouco The Office, mas que foi feito antes do próprio The Office”, contextualiza Lessa, especificando que esta é uma série que ele maratona até hoje.


Cocriada e protagonizada pela atriz Lisa Kudrow, que atingiu o sucesso ao interpretar a carismática Phoebe em “Friends", “The Comeback” é uma dramédia produzida pela HBO que narra as aventuras de Valerie Cherish, uma atriz de sitcom lidando com os desafios da sua badalada e conturbada vida em Los Angeles.


Alguns momentos são bem constrangedores mesmo. E saber que ela [Lisa Kudrow] escreveu, criou, e protagonizou a série… Eu acho admirável”, comenta Lessa, que completa: “Além de ter todo esse humor do constrangimento, a série também traz um coração muito grande sem ficar forçado. Acho tecnicamente impecável. Cenas tem começo, meio e fim, é bem escrito. Já é single camera, vem nessa safra de 2004”.


Rafael Lessa acredita que a série “não recebe todo o amor que ela merece”, citando a utilização precursora da metalinguagem para acentuar o “humor do constrangimento” como pontos inovadores para a época.



Veep (2012-2019)


Veep. - Imagem: reprodução

Julia Louis-Dreyfus e Lisa Kudrow, eu as considero as duas maiores gênias da comédia. A Julia Louis-Dreyfus entende muito bem qual é o humor dela”, comenta Lessa.


Criada por Armando Iannucci, “Veep” na verdade é uma adaptação do seu próprio sitcom “The Thick of It”, desenvolvido e televisionado no Reino Unido. Na versão norte-americana, acompanhamos a vida nada glamurosa de Selina Meyer, vice-presidente dos Estados Unidos. Com sua comitiva formada por ambiciosos e atrapalhados profissionais, Selina transita em ambientes de poder, sempre da forma mais desajeitada possível.


“O Veep é essa série sobre bastidores, que tem essa câmera de mockumentary sempre acompanhando as personagens. São personagens muito complexas, bizarras, muito fascinantes. É uma das poucas séries que eu rio de cair no chão.” - Rafael Lessa

Lessa também aponta para o “coração da série”. “É sobre o universo da política, mas ao mesmo tempo com pessoas muito humanas. Pessoas que estão pensando muito nelas o tempo todo”, resume.



Schitt's Creek (2015-2020)


Schitt's Creek. - Imagem: reprodução

“Schitt’s Creek também é uma dessas séries que tem um coração muito forte, com personagens muito egoístas. Me interessa muito isso, pessoas que são capazes de tudo por aquilo que elas querem”, explica Lessa, trazendo a abordagem sobre o universo LGBTQIA+ como um ponto super positivo.


“Sobre o fenômeno LGBTQIA+, essa é uma série que consegue convidar muitas pessoas para a discussão de uma forma afetuosa. É sobre conseguir construir histórias simples, humanas, com personagens que cometem ações condenáveis, mas que tem um amor muito forte.” - Rafael Lessa

Criada por Dan Levy e Eugene Levy, “Schitt’s Creek” é um sitcom canadense sobre uma família de classe alta que sofre o seu maior baque financeiro e precisa se mudar às pressas para Schitt’s Creek, cidade que no passado eles compraram como uma forma de piada. Vivendo em um pequeno quarto de motel, Johnny, Moira e seus filhos David e Alexis precisam aprender a conviver entre si e lidar com um novo estilo de vida.



Succession (2018-)


Succession. - Imagem: reprodução

“Não podia deixar de indicar Succession, um fenômeno bem atual. Quando você soma tudo: atores de qualidade, texto de qualidade e dinheiro suficiente para fazer aquilo que você quer, o resultado é Succession”, comenta Lessa.


Succession é a mais recente sensação da HBO, sendo comparada a sucessos como “Sopranos”. De forma engraçada e provocativa, Succession nos mostra os bastidores de uma das famílias mais ricas e influentes do mundo. Embora ficcional, os “Roy” são um perfeito reflexo de famílias reais que dominam a indústria do entretenimento e jornalismo internacional. Como o próprio título indica, a razão de ser da série envolve uma urgente tomada de decisão sobre o sucessor da empresa bilionária Waystar Royco e os difíceis obstáculos desse competitivo mundo dos negócios.


“Cada episódio é um grande acontecimento. Eu queria muito estar numa sala de roteiro de Succession para entender como é feito. Sei que tem um criador muito forte por trás, atores geniais e dinheiro infinito! É importante falar do dinheiro, faz toda a diferença para ficar muito bom.” - Rafael Lessa

Como destaques, Lessa menciona as personagens Greg (Nicholas Braun) e Tom (Matthew Macfadyen). Segundo o roteirista, são personagens extremamente difíceis de escrever “naquele nível de qualidade e verossimilhança”.


Succession também traz muito do que eu gostava no Gilberto Braga. Aquelas famílias riquíssimas, a sensação de adentrar esse universo como uma mosca, observando tudo”, explica.


Rafael Lessa. - Imagem: Fábio Audi

Referências são importantes para a criação, mas também se tornam ferramentas essenciais na hora de apresentar o seu projeto. De onde vem a sua inspiração? Que produtos audiovisuais se aproximam daquilo que você está criando? Por isso, não deixe de conferir a lista de indicações do roteirista Rafael Lessa e formar a sua própria. E claro, não deixe de vir aqui dividir suas referências com a gente!



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