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Raio-X: “Harina”, a esquete que virou série, com Pedro Esteves

O roteirista do Porta dos Fundos conta como foi adaptar a esquete brasileira para a realidade mexicana em série original

"Harina". Imagem: reprodução
"Harina". Imagem: reprodução

De esquete de 2 minutos à série original com 8 episódios: você conhece a trajetória de sucesso de “Harina”?


Criada e escrita por Pedro Esteves e Carlos Reichel, em “Harina”, primeira produção internacional do Porta dos Fundos (conhecida como Backdoor), acompanhamos a dupla formada pelo detetive Harina e a policial Ramírez, em uma intensa investigação atrás do seria killer conhecido como “El Cancelador”, um maníaco que assassina influencers.


A série, que está disponível na plataforma da Amazon Prime Video e terá sua estreia no Comedy Central Brasil no dia 19/06 (domingo), começou como uma pequena e hilária esquete para o canal Porta dos Fundos intitulada “Farinha”, logo se transformando em um grande fenômeno.


Encabeçando todos esse processo de criação e adaptação estão Carlos Reichel, roteirista-chefe da equipe de roteiro de Bugados no Gloob que foi chamado pela equipe do Porta para trabalhar exclusivamente nessa série; e o roteirista e ator Pedro Esteves, que divide com a gente um pouco dessa história e os desafios de adaptar um sucesso do Porta dos Fundos para o formato televisivo sem perder sua essência.


Quem é Pedro Esteves?

Pedro Esteves
Pedro Esteves. Imagem: Elenco Digital

Aos 17 anos de idade, Pedro Esteves mudou-se para o Canadá, onde passou a buscar oportunidades como ator. Esteves conta que, ainda no Canadá, dedicou-se a aperfeiçoar seu ofício, trabalhando como figurante em diversos filmes, além de investir em cursos de atuação. “Apesar de sempre tirar muito prazer da criação, de inventar coisas, cheguei no Canadá querendo ser ator”, resume.


Seu retorno ao Brasil não veio a partir do audiovisual - Pedro trabalhava em uma agência de intercâmbio enquanto produzia vídeos cômicos para a internet paralelamente. “Era o auge do Porta dos Fundos, que estava no seu quarto ano de existência. Eu sempre gostei desse formato de ‘esquete’”, revela Esteves, que afirma se inspirar em programas como “Chappelle’s Show” e “Key and Peele”.


“Era criar, gravar e ficar mais atrás das câmeras. Eu comecei a tirar esse gosto maior pela criação e fui me aproximando de pessoas com essa intenção.” - Pedro Esteves

Sua entrada no Porta dos Fundos foi através de indicação do roteirista Gabriel Esteves (que não é seu parente, apesar do nome), parte da equipe original de criativos da produtora.


Segundo Pedro, depois de muito insistir para que Gabriel lesse algumas das suas esquetes, enfim surge a oportunidade de produzir conteúdos para o Porta. De lá para cá, Pedro está há mais de 5 anos no Porta dos Fundos e hoje, além de escrever esquetes, faz supervisão criativa para a divisão do México.


“Eu entrei no Porta com 30 anos de idade. Fui me encontrando ao longo da vida, dos anos. Eu vejo muita gente perdida, gente que trabalha com arte… Eu noto que hoje em dia as pessoas têm mais pressa em saber o que querem da vida, querem tudo já pronto. Essas coisas demoram mesmo. Às vezes você se encontra muito cedo, às vezes não, mas você vai se moldando e descobrindo novas coisas.” - Pedro Esteves

O vídeo “Farinha” e o sucesso internacional


Esteves deixa bem claro que cada roteirista do Porta dos Fundos tem seu próprio estilo, algo que acaba influenciando bastante o seu processo criativo. Por ter migrado para o Canadá muito cedo, Esteves conta que acabou encontrando sua voz principalmente através de referências cinematográficas e suas possibilidades.


Para a esquete “Farinha”, a inspiração parte de um clichê do cinema internacional - a clássica cena do policial experiente que identifica a cocaína passando a droga na gengiva, sem qualquer constrangimento. “Ninguém mostra esse investigador 10 minutos depois que ele usou cocaína. Foi aí que eu pensei nessa cena”, completa.



A esquete, que parte de uma premissa simples e divertida, como o próprio roteirista afirma, dialoga muito bem com a estrutura dos vídeos do Porta dos Fundos, onde a situação escala em direção ao absurdo.


Pedro Esteves conta que houve muita improvisação dos atores durante a cena, adicionando elementos cômicos e físicos. Segundo Esteves, Rodrigo Magal, que assina a direção do vídeo, também trouxe um toque especial para a criação da esquete, como a ideia de quebra da quarta parede - um elemento muito utilizado em séries clássicas como “The Office” e “Veep”.


Quando o vídeo se torna uma série, esse artifício da quarta parede é incorporado à narrativa. “A série acontece em volta de um vídeo real gravado durante uma perícia”, conta Esteves.


O processo de adaptação


Há mais de 3 anos, o Porta dos Fundos adapta seus vídeos para diferentes mercados - entre eles, o México. Foi o caso da esquete “Farinha” (ou, em espanhol, “Harina”), que logo se tornou um sucesso. “Quando o vídeo foi adaptado, ele transcendeu o canal e virou um meme nacional. É o mais visto do Porta dos Fundos de todos os canais”, comenta Esteves. Hoje, o vídeo passa a marca das 62 milhões de visualizações.



Com a repercussão, naturalmente surgiu o interesse em transformar o projeto em série de ficção. As gravações, porém, foram interrompidas com os atrasos impostos pela pandemia do COVID-19, retomando apenas dois anos depois. O atraso e as expectativas sobre o projeto trouxeram, de início, uma reação adversa por parte do público.


Quando anunciaram para o público mexicano que a série do tenente ‘Harina’ iria existir, o feedback não foi positivo”, conta Esteves. Havia a impressão de que, nas palavras de Pedro, eles iriam “requentar um meme de 2019 para uma série original”. Além disso, segundo o roteirista, o público esperava um tom mais exagerado do humor, um caminho que não foi trilhado pela equipe.


“O desafio era pegar uma personagem de uma esquete cômica de 2 minutos e meio e dar uma vida para ela, uma humanidade, um drama, uma história. E a gente fugiu da comédia pastelão. A série é quase uma dramédia com suspense.” - Pedro Esteves

Da batalha do tenente com o vício em drogas à luta para não perder a guarda da filha, são muitos os elementos que conferem profundidade à série. E, já no lançamento, “Harina” foi muito bem aceita pelo público.

"Harina". Imagem: reprodução
"Harina". Imagem: reprodução

Pedro Esteves conta que “depois da estreia da série, todos os comentários eram assim: ‘achei que seria uma merda, mas me surpreendi muito. A série está excelente!’”. “As pessoas não esperavam nada e a gente entregou bastante”, completa.


Dois meses depois da estreia de “Harina”, a série segue disputando espaço no top 3 das séries mais vistas no México pela Amazon Prime Video, alcançando até mesmo o top 10 norte-americano. Com a estreia no Comedy Central Espanha, “Harina” foi responsável por subir a audiência do canal em 60%, dando uma prévia do sucesso que deverá fazer aqui no Brasil.


Por fim, Pedro Esteves conta que a série foi escrita integralmente em parceria com Carlos Reichel e seus estilos se complementaram para alcançar o sucesso que foi. Os roteiros, que foram inicialmente escritos em português e traduzidos posteriormente para o espanhol, sofreram algumas mudanças para melhor se adaptar aos elementos culturais mexicanos - um trabalho que, como supervisor de conteúdo da Backdoor México, Esteves está mais do que acostumado.


Antes da sua estreia no Comedy Central, “Harina” pode ser assistida na íntegra no Brasil através da plataforma Prime Video. Confira o trailer:



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