Writer's Room 51
12 de dez de 20204 min
A protagonista é a personagem principal da história. É a força motriz central da narrativa e passa pela maior transformação física, emocional, intelectual e espiritual. O universo da história é revelado por meio de sua perspectiva e o envolvimento do público cresce na medida em que os conflitos e obstáculos são resolvidos.
E quando queremos tratar de dois protagonistas em nossa história? Quais estratégias considerar? Quais opções criativas existem à nossa disposição? Traduzimos e adaptamos o texto do Creative Screenwriting sobre isso, para ajudar na construção do duplo protagonismo de maneira mais interessante.
Acompanhe!
O caso de ter dois protagonistas é um daqueles tópicos de escrita de roteiros que divide opiniões e é inteiramente determinado pelas preferências estilísticas de quem escreve. Várias protagonistas podem complicar a história, mas isso foi feito com sucesso muitas vezes ao longo da história do cinema.
Ao considerar se você deve ou não usar duas protagonistas, questione se a narrativa seria ou não mais forte e simplificada com um único protagonista. Por que a necessidade de vários protagonistas? Essa escolha estilística tem uma função prática? Tem função simbólica? A história transita suavemente entre as perspectivas?
Com a mudança de perspectivas, a coerência é a chave. Seu público pode perder a conexão com a narrativa se o foco mudar muito. Quando feitas corretamente, as narrativas devem se entrelaçar perfeitamente. Costure os mistérios, levando à próxima cena. Faça o público questionar o que vem a seguir, mas nunca permita que eles parem por estarem completamente perdidos. Isso vai estragar o fluxo.
Dito isso, uma história fascinante pode ser contada alternando entre a pessoa que é o objeto do mistério e a pessoa que o resolve, por meio de dois pontos de vista que ilustram esse determinado elemento de mistério.
É importante pensar sobre como os protagonistas se cruzam e se relacionam em termos de tema. Eles estão na mesma jornada ou em seus próprios caminhos únicos? De qualquer forma, a transformação de uma personagem deve coincidir com a do outro de alguma forma significativa.
O roteirista Scott Myers defende a diferença entre protagonistas duplos e co-protagonistas.
Co-protagonistas: duas personagens iguais compartilham uma jornada.
Protagonistas duplos: duas personagens iguais têm sua própria transformação única.
O exemplo mais claro de co-protagonistas no cinema pode ser encontrado nas duplas de comédias do cinema mudo, como Laurel e Hardy ("O Gordo e o Magro").
Cada roteiro tem vários enredos com narrativas paralelas. É mais comum na televisão, porque seus arcos de história precisam ser concluídos dentro de um episódio único, ao mesmo tempo que se ligam aos arcos gerais da temporada/série. Sem mencionar todas as linhas de personagens individuais dentro desses sistemas. Por enquanto, vamos nos concentrar nos recursos.
Quando se trata de narrativas paralelas, são geralmente apontadas seis categorias principais - três das quais se aplicam aqui.
Essas narrativas são frequentemente contadas por meio de enredos de personagens individuais igualmente importantes (micro-enredos).
Várias protagonistas têm suas próprias histórias que servem ao macro-enredo - o enredo abrangente que as une. As histórias são geralmente truncadas, o que significa que são quebradas em intervalos claros de atos ou partes separadas - embora sejam conectadas por temática direta.
Exemplos de narrativas paralelas são as obras de Alejandro González Iñárritu e Guillermo Arriaga - "Amores Brutos", "21 Gramas" e "Babel"; "Pulp Fiction: Tempo de Violência", "Simplesmente Amor", para citar alguns.
Um grupo de personagens trabalha junto para completar uma jornada ou objetivo. O número mais comum de personagens para o grupo é quatro, mas conjuntos maiores ou menores podem se unir para algumas batalhas épicas.
Os exemplos incluem "Os Vingadores - The Avengers", "Se Beber, Não Case" e "Viagem das Garotas".
Quando duas protagonistas igualmente importantes se aproximam, se afastam ou encontram paralelos fisicamente, emocionalmente ou ambos. Essas jornadas duplas geralmente têm um conjunto de histórias A, B e C.
A - Personagem 1
B - personagem 2
C - Jornada compartilhada.
Em "O Segredo de Brokeback Mountain", vemos dois protagonistas em oposição aos co-protagonistas, porque Ennis e Jack têm suas próprias histórias que convergem, se separam, correm paralelamente e, em seguida, convergem novamente.
A: Ennis Del Mar - casa-se com Alma e tem duas filhas.
B: Jack Twist - muda-se para o Texas e casa-se com Lureen.
Mas o amor que eles compartilham um pelo outro sempre os traz de volta, mesmo que apenas por um breve momento doloroso.
C: Seu amor reprimido.
Esta é a força motriz de cada personagem e que informa as vidas separadas que eles fazem para si próprios. A gravidade os fez colidir. A colisão de sua paixão e a força na repelência imediata de seus verdadeiros desejos os conduzem a um amor não realizado.
"Os Suspeitos", escrito por Aaron Guzikowski, é outro grande exemplo de duplo protagonismo, abordando o caso de uma criança desaparecida de diferentes ângulos desse tema central: os dois lados da justiça. Dover recorre à justiça dos vigilantes, fazendo justiça com as próprias mãos, enquanto Loki anda na linha tênue da legalidade.
Frequentemente, em narrativas duplas e com co-protagonistas, uma personagem tem um objetivo externo, enquanto a outra tem um objetivo interno.
Em "Toy Story", o ciúme de Woody de ser substituído pelo novo brinquedo de Andy, Buzz Lightyear, faz com que os dois fiquem presos. O objetivo de Woody é não ser substituído. Buzz precisa perceber que ele é um brinquedo e não um cadete espacial real. Seu objetivo em comum é voltar para seu dono.
O uso de protagonistas duplos permite que roteiristas explorem uma visão mais detalhada e matizada da história a partir de diferentes perspectivas. Isso abre muitas possibilidades narrativas.
E aí, o objetivo é fazer isso sem que o público esteja 100% ciente. Encontrar uma maneira de suas narrativas ou mundos se conectarem de alguma forma é vital para criar um enredo coeso.